Para Leitores

3 poemas de Augusto dos Anjos

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Confesso que Augusto dos Anjos é um nome que só me lembra o ensino médio e as aulas de literatura, e por mais que eu gostasse da disciplina, poucos foram os autores que continuaram a despertar meu interesse depois da escola, entre eles Fernando Pessoa e Cecília Meireles.

Porém, sabendo que Augusto dos Anjos é um dos grandes, resolvi ler. Tive bastante dificuldade com o estilo, o vocabulário rebuscado e as palavras estranhas, que me fizeram ir e voltar várias vezes nas linhas até pegar mais ou menos o contexto.

Por outro lado, quando algum poema me tocou, aconteceu de maneira bem lúcida, como se eu e o poeta tivéssemos angústias em comum e ele colocasse em versos sentimentos muito parecidos com os meus. Separei alguns dos que mais gostei:

A UM CARNEIRO MORTO
Misericordiosíssimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!
Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!
Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos – fontes de perdão – perdoaram!
Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
Se fosses Deus, no Dia do Juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!

CONTRASTES
A antítese do novo e do obsoleto,
O Amor e a Paz, o Ódio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina,
Tudo convém para o homem ser completo!
O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina,
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!
Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes,
Junta-se um hemisfério a outro hemisfério,
Às alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemitério!..

CETICISMO
Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a Dúvida ergueu altar profano;
Cansado de lutar no mundo insano,
Fraco que sou, volvi ao ceticismo.
Da Igreja – a Grande Mãe – o exorcismo
Terrível me feriu, e então sereno,
De joelhos aos pés do Nazareno
Baixo rezei, em fundo misticismo:
– Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel qual me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.
Ah, entre o medo que o meu Ser aterra,
Não sei se viva pra morrer na terra,
Não sei se morra pra viver no Céu!

Não posso dizer que absorvi ou interpretei tudo, muito da obra precisaria de uma atenção mais aprofundada minha, com pesquisa, repetição e quem sabe leitura em voz alta, mas não chegou a ser totalmente uma leitura obscura. As dificuldades apareceram, mas acho que a literatura mais proveitosa é aquela que nos tira da zona de conforto.

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3 thoughts on “3 poemas de Augusto dos Anjos”

  1. “Como um ladrão sentado numa ponte / Espera alguém armado de arcabuz / Na ânsia incoercível de roubar a luz / Estou a espera que o sol desponte.” (Augusto dos Anjos)

    O meu poeta favorito.👍❤️👏

  2. Eu, não sou anjo, nem no plural!
    Me apresiona o fato de sempre que leio ou escuto uma crítica ao poeta Augusto dos Anjos perceber uma quase desculpa aos seguidores, que vem acobertada ao fato de que leu em nome da ciência.

  3. Luiza Anchieta
    Um verdadeiro gênio!
    Infelizmente abominado em sua época, pela ignorância e hipocrisia, que reina eterna na sociedade.
    “Narciso acha feio o que não é espelho”
    A empatia ensinada por Cristo não reina no coração da avassaladora maioria dos cristãos.
    Verdadeiro, gênio!

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