Para Leitores

Resenha A vida impossível – Matt Haig

Sinopse

Grace Winters é uma professora aposentada de matemática que levava uma vida desinteressante aos 70 anos. Viúva, ela convivia com o luto da perda do marido e com a culpa pela morte do filho em um acidente de trânsito aos 11 anos de idade. Certo dia, Grace recebe um e-mail de um ex-aluno compartilhando episódios de sua vida pessoal que o deixaram num estado de desânimo profundo. Em resposta, Grace começa contar a própria história, narrando como um evento extraordinário mudou radicalmente a sua vida.

Resenha

Para quem bem se lembra, Matt Haig é autor do sucesso de vendas A Biblioteca da Meia-Noite, livro que li mais ou menos nesta mesma época no ano passado. Apesar da popularidade, foi um livro que dividiu opiniões entre leitores e causou muito embate nos perfis literários – até o Felipe Neto entrou na discussão e opinou de modo nada favorável.

Para mim, não é um livro extraordinário, mas também não é intragável. É um enredo curioso onde uma mulher na faixa dos 30 anos passa por uma série de eventos ruins que a levam a tentar o suicídio. Fim de um noivado, morte do seu gato de estimação e a demissão do trabalho agravam uma crise depressiva que vai consumindo a mente dela aos poucos.

No meio desse buraco negro, a personagem tem a experiência sobrenatural de adentrar em uma biblioteca mágica, onde uma bibliotecária a guia por entre os corredores, e cada livro representa uma vida que ela poderia ter vivido se tivesse feito outras escolhas.

A partir daí, a mulher tem a oportunidade de refletir sobre a própria jornada e chegar a conclusões que não teria chegado sem uma mãozinha de uma realidade paralela e fantástica.

Em A vida impossível, a fórmula se repete. Também temos uma mulher em desequilíbrio emocional e também temos uma experiência que a leva aos limites da lógica do universo, o que me faz questionar se Haig não teve outra ideia criativa e resolveu escrever de novo sobre uma estrutura que deu certo da outra vez.

“Há sempre um elemento de imprevisibilidade , mesmo nas coisas mais previsíveis”.

Para não estragar a surpresa, não vem ao caso mencionar que experiência é essa, basta dizer que ela é muito mais fantasiosa do que a biblioteca do outro livro e, na minha opinião, desencaixada do resto da narrativa. Fiquei com a impressão de que o autor usou esse recurso para justificar quaisquer cenas que não seriam possíveis no “mundo real”.

Grace, enquanto lecionava, conheceu uma professora com quem estabeleceu um vínculo de amizade durante o tempo em que trabalharam na mesma escola. Uma conversa em uma noite de Natal ficou marcada na memória da amiga e, anos depois, sob essa justificativa, ela deixa de herança para Grace uma casa em Ibiza.

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Confusa com o presente inesperado, Grace sai da Inglaterra e vai até a Espanha para receber a casa e entender por que ela foi escolhida para constar no testamento de uma pessoa que não via e nem mantinha contato há tantos anos. A partir daí, Grace desbrava Ibiza e eventos inexplicáveis começam a ocorrer. Já na metade do livro, uma missão é dada a ela: salvar a ilha das ambições inescrupulosas de um bilionário local.

“Nós construímos nossa fé, assim como construímos nossas histórias. Acreditamos no que queremos acreditar, mas há esforço envolvido”.

Tudo é muito previsível, e o que não é, justifica-se como episódio fantástico. É certo que a intenção do autor é boa – assim como em A biblioteca da meia-noite –; trata de abordar aspectos psicológicos do ser humano. Autoconhecimento, perdão, instalação no tempo presente, conexão com outras pessoas, e tudo que envolve gerir a própria mente com empatia e sensibilidade. Mas me incomoda que isso tenha sido feito com um pó de pirlimpimpim.

Sobre o autor

Matt Haig é um romancista e jornalista inglês. Escreveu livros de ficção e não-ficção para crianças e adultos, muitas vezes no gênero de ficção especulativa. É um autor best-seller internacional com livros publicados em mais de 50 idiomas.

Sobre o livro

Título: A vida impossível
Autor: Matt Haig
Editora: Bertrand
Páginas: 378
Nota: 1/5
Tags: Ficção inglesa

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa