O dia ainda não está tão claro e os pensamentos já são lançados como bolas de tênis que eu preciso rebater.
“Que dia é hoje?”
“Ligar para Fulano”.
“Consulta às 15h”
“Passar na casa da mãe e pegar a ração”.
Eu levanto, puxo os lençóis para arrumá-los. “Entregar aquele relatório até o meio-dia”. Saio do banho e passo a toalha pelo rosto, o corpo meio zonzo. “Acabou o ovo e a banana, tenho que passar no supermercado”.
E o dia vai passando e as tarefas aumentando à medida em que eu me lembro delas. No meio do expediente, pergunto-me se ainda vale a pena continuar fazendo aquilo ou se é melhor mudar de área de uma vez. “Estou muito velha para começar do zero, mas eu também preciso ganhar mais”. Não tenho isso, não tenho aquilo, Fulana é mais nova do que eu e já tem tudo.
Na academia, lembro tudo que ainda tenho que estudar ao chegar em casa. “Há meses não dou o meu melhor, os resultados não virão nunca”. No meio dos estudos, penso em quanto estou deixando todos os meus outros sonhos de lado.
E o dia continua passando. “Queria que chegasse logo o sábado pra eu escolher um bom restaurante para almoçar e hoje ainda é segunda-feira”. E assim, no sábado, penso que na segunda é dia de checar determinado trabalho.
Vivo então como um relógio adiantado três dias. Sempre pensando na semana que ainda não começou, no problema que ainda não chegou e na solução que ainda não tenho para o que ainda nem existe. Não disse Deus que a cada dia basta sua própria preocupação? (Mt 6:34). No entanto, esqueço-me de viver cada batida do ponteiro ao seu próprio tempo, cada instante onde, já dizia C.S. Lewis, o tempo toca a eternidade. Deixo escapar que o presente é absolutamente tudo que eu tenho.
Cada dia meu já começa pelo fim.