As últimas notícias sobre o novo imposto sobre o livro me deixaram muito pra baixo. Imposto, tributo, taxa, não sei o nome correto, e também acho que, em termos gerais, isso é o de menos. Fiquei chateada, revoltada, desanimada, tudo que uma leitora pode ficar ao saber que seus preciosos livros podem ficar cada dia mais caros e inacessíveis. Mas esse não é exatamente um artigo para discutir as nuances políticas, econômicas e culturais desse assunto, mas para aproveitar esse gancho e falar como eu tenho me sentido como escritora nos últimos tempos.
Eu sempre fui ciente de que viver da escrita no Brasil é um ofício complicado. Já devo ter falado por aqui, ou no Instagram, que não é uma profissão impossível. Numa abordagem ampla o escritor tem muitas possibilidades, e a depender da sua formação (Letras, Jornalismo, Produção Editorial) essas opções se expandem ainda mais. Mas quando você pretende apenas escrever livros, histórias, romances, contos, etc, e não tem a intenção de complementar a renda dando cursos, palestras ou abrindo uma empresa própria, parece que o mercado murcha e você murcha junto.
Trabalho para que meus livros sejam bons o bastante para meu público querer comprar e ler, mas ando desanimada com esse ofício. E isso pode acontecer, não é? A gente não pode ter umas crises de vez em quando? Se esse quadro se chama Bastidores é justamente para eu contar o que acontece por trás das fotos do Instagram.
Hoje em dia eu escrevo, planejo meu romance, tenho ideias para projetos novos, mas mantenho os pés no chão. Tento ser otimista e pensar: vamos lá, Sabryna, é isso que você gosta de fazer, dê o seu melhor. E dou um afago nas minhas próprias costas e penso naquele coach safado que faz a vida toda parecer mais fácil. Esse post é pra dizer que não é, não tem sido, pelo menos para mim. Escrever é meu oxigênio puro no meio da fumaça da vida real, onde você precisa sair disputando vagas aos dentes com outras pessoas que, como você, tem andado por aí com olheiras de tanto dormir mal porque têm se ocupado em serem bons profissionais.
É engraçado ver como esse texto tem um tom diferente deste aqui que escrevi no início do ano. Eu ainda acredito muito nele e gosto de pensar que meses atrás estava pura empolgação, mas eu preciso ser honesta e dizer que minha fase atual é de desaceleração. Continuo aqui, produzindo conteúdo e tentando levar para frente meus projetos, mas também não posso esquecer de outros itens importantes.
Escrevo durante a noite porque durante o dia preciso prestar serviços a alguém que já tem bastante dinheiro, mas mesmo assim quer ganhar um pouco mais (não que seja proibido). Escrevo durante a noite porque durante o dia preciso estudar outros assuntos totalmente distantes da escrita criativa e ter uma renda razoável no fim do mês. Para poder dizer a minha mãe que ela não precisa parcelar a compra dos seus óculos de grau novos porque tenho condições de comprar de uma só vez. Escrevo no fim do dia, já com as costas doendo, a coluna latejando, os olhos secos pela exposição exagerada ao computador porque no começo do dia eu preciso pensar: que curso gratuito eu posso fazer na internet hoje para melhorar meu currículo?
A gente sabe que não dá pra viver de royalties no Brasil, então a gente tem que se virar. A gente tem que se virar para pagar as contas, ajudar a família, comer, se vestir, dar uma gorjeta legal pro moço do iFood, comprar os livros que a gente tanto gosta e estão cada dia mais caros.
Eu amo o Brasil, mas não é um lugar fácil de se escrever.