• Bastidores

    O dia depois de hoje

    No início do mês de julho, o mundo do futebol foi surpreendido pela morte do jogador Diogo Jota, e do seu irmão, o também jogador André Silva, em um acidente de carro na Espanha. A notícia chocou todos os que acompanham não só o futebol, mas amantes de esportes por todo o mundo, pela violência da tragédia e pelo contexto em que ela aconteceu. Diogo, de 28 anos, havia acabado de se casar com a companheira de sua vida, Rute Cardoso, com quem tinha três filhos pequenos; havia sido campeão da Premier League, a competição mais popular do planeta, com o Liverpool; e também venceu a Nations League, com a…

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    Como você faz qualquer coisa é como você faz tudo

    Para mim, um dos serviços domésticos mais chatos de executar é a limpeza do fogão. Não é um trabalho para se fazer de qualquer jeito. Se você quer que fique bem limpo, é preciso passar a esponja nos cantinhos, nas curvas das grades, e em todos os lugares onde porventura a gordura tenha respigado. Ninguém nunca está animado para limpar um fogão, é sempre “caramba, ainda falta o fogão”, e às vezes o que sai é uma limpeza meia-boca. Mas você faz desse jeito mesmo porque precisa se arrumar para sair para o trabalho. Coloca uma roupa, um sapato, prende o cabelo em um rabo de cavalo e pega a…

  • Bastidores

    Onde crescem os leitores?

    Ontem, deparei-me com a seguinte publicação da PublishNews: Com dificuldades históricas e estruturais, Brasil vive impasses na construção de uma nação de leitores. Essa matéria foi muito eficiente em elencar pontos problemáticos no processo de formação de leitores no Brasil. Logo no início, o texto aborda o papel fundamental dos mediadores, na escola, em ONGs, em projetos sociais ou na família. Pra mim, tudo começa dentro de casa. Na minha percepção, não tem projeto de leitura, ou professor, por mais bem-intencionado que esteja, que supra um núcleo familiar que entende a importância da leitura.  Evidente que não é regra — eu mesma não vim de um lar leitor —, mas…

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    Quem escolhe os livros que você lê?

    A pauta da semana na bolha dos leitores é a lista dos melhores livros brasileiros do século que a Folha de S. Paulo publicou há alguns dias. A partir da eleição de  professores, donos de livrarias, críticos e outros profissionais do mercado editorial, 25 títulos compuseram uma seleção que gerou alguns burburinhos. Elaboro este texto a partir de um desses comentários. Um determinado leitor apontou a presença significativa da editora Companhia das Letras, que, segundo ele (eu não fui conferir a informação, espero que não cancelem minha carteirinha de jornalista, esse número apenas não é relevante para o que eu quero abordar aqui), publicou 17 dos 25 livros eleitos. O…

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    Janelas

    Entre o fim de fevereiro e o início de março, eu mudei de apartamento. Mudanças não são o meu forte, em nenhuma categoria. Gosto de morar no mesmo bairro (meu endereço ainda é na mesma rua), de trabalhar no mesmo horário, dos móveis no mesmo lugar, de malhar na mesma academia e de pegar o mesmo caminho pra ir e vir – embora esse não seja o melhor recurso de segurança quando se mora em uma cidade como a minha. Mas, por força das circunstâncias, não foi possível permanecer no mesmo apartamento e precisei encaixotar meus pertences e transportar de um imóvel para o outro. Na casa anterior, a primeira…

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    O vento que nem sempre sopra

    Quando você passa por um processo de conversão ao cristianismo — seja qual for a vertente —, é comum viver aquele momento em que sente o Espírito Santo envolver você de um modo tão forte que quase parece mágica. Você sente o êxtase, a alegria, a esperança, o amor de Deus, a fé — tudo passando pelo seu corpo como uma corrente elétrica de alta voltagem. E fica inebriado por dias, até meses, flutuando naquele mar de graça. Até que a corrente começa a deixar a sua pele, esvaindo-se pelos dedos, e você percebe que está voltando a ser o sujeito que era antes: um homem ou mulher comum, indo…

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    Suco de laranja

    Talvez uma das situações mais difíceis de se viver na era das distrações seja aquele momento em que o sujeito precisa entrar em confronto consigo mesmo, iniciando e mantendo um embate com as próprias emoções. É fácil sentir alegria, saborear o sentimento de júbilo, porque o riso sai fácil, a musculatura do rosto está relaxada, o corpo não pesa e a alma não se comprime. Mas quando vem a tristeza, a angústia ou o desamparo, muito mais penoso é bater no peito e dizer “deixa vir”. Porque vem cheio de espinhos, queimando a pele, apertando o pescoço, beliscando, batendo, soprando frio, estremecendo o nosso interior sem que nada possamos fazer.…

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    O descontentamento infinito

    Há um comportamento comum em crianças pequenas que se apresenta na seguinte cena: ela diz que gostaria de comer uma banana, então um adulto entrega a banana a ela, inteira e com casca, e, a depender da idade, com as próprias mãozinhas ela abre o envelope amarelo e come; às vezes, a criança recebe a banana descascada, porém inteira, e recusa, pois seria melhor se estivesse cortada, então o adulto corta a fruta em rodelas; o pequeno ser humano esperneia porque os pedaços são muito grandes e devolve o prato, recebendo de volta com pedaços menores; não satisfeita, ela diz que quer mesmo é a banana amassada. Ao ver na…

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    A sujeira embaixo do tapete

    Aos dez anos de idade, em certa ocasião, levei um “puxão de orelha” da diretora da escola na frente da turma inteira. Ela era uma mulher alta, negra, de cabelos crespos curtos e com fama de durona. Aliás, era por causa dela que os pais escolhiam aquela escola, por manter os alunos na linha. Mas naquele episódio eu não havia feito nada (nem em qualquer outro, pois sempre adotei o estilo boazinha) e fui punida com uma humilhação em público. A vergonha diante dos colegas se misturou com a indignação do castigo injusto e eu vivi a minha primeira experiência com o rancor. Eu não acredito que os signos possam…

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    #30 Daqui para frente sem olhar para trás

    Há mais de um ano venho me preocupando com o dia do fatídico aniversário de 30 anos. Foi ontem. Um dia comum em que fiz faxina em casa, terminei a leitura de de um livro, cozinhei apenas para mim, vi TV, arrumei-me e saí para encontrar os amigos. Mas também fiquei triste, senti-me solitária, dei brecha para uma crise de ansiedade e me vi desesperançosa.  Em um O Grande Gatsby, Nick faz a seguinte reflexão no dia do seu aniversário: “Trinta anos… a promessa de uma década de solidão, um número cada vez menor de amigos solteiros, cada vez menos esperanças, os cabelos começando a cair… Porém, do meu lado…

Sabryna Rosa