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Bastidores

Não empresto meus livros

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Eu encontro muitos perfis literários através do recurso explorar do Instagram. Gosto de ficar passeando por lá e ver as fotos bonitas e estantes enfeitadas. Dias desses, esbarrei na foto de uma grande estante preta com os livros organizados por cor. Parecia um arco-íris em degradê tomando de conta de uma parede, a coisa mais linda de se ver. Na legenda, a dona dizia que tinha mais de 1.800 títulos que foram colecionados ao longo de anos, alguns até mesmo em edições raras e que custaram uma fortuna. No final do texto, ela foi categórica: “não empresto nenhum!”

Esse é um comportamento comum entre leitores e tenho a impressão de que quanto maior a coleção, maior o apego. Não os culpo, principalmente porque já testemunhei situações em que o favorecido não foi muito cuidadoso com o objeto alheio e isso é realmente bastante embaraçoso. Ainda assim, eu fico pensando se no meio de mil livros quantos poderiam ser generosamente oferecidos em forma de empréstimo, e no meio de tantos mal cuidadores quantos têm a consciência de serem zelosos com aquilo que não é seu e acabam sendo punidos pelo mau comportamento dos outros.

No meu perfil do Skoob, no momento desse post, 171 livros estão registrados como lidos, mas eu já li muito mais, antes da época da plataforma e da internet em casa. Posso dizer que 60% deles foram emprestados. Títulos que todo mundo tem em casa, boxes completos, edições de lançamentos, nunca tive isso. Na época da saga Crepúsculo uma amiga de escola comprava e eu entrava na fila, com a paciência de esperar as irmãs e primas em seu ritmo de leitura não muito veloz – e tudo bem, não era essa a questão.

Foi assim com A Culpa é das Estrelas (amiga da faculdade), a maioria do Dan Brown (amigos da escola e faculdade) e alguns dos Nicholas Sparks (vizinhos). Às vezes, a vontade de ler determinado livro era tão grande que eu fazia uso da minha cara de pau e dizia pra coleguinha “Ei, naquele dia na sua casa eu vi que sua tia tem aquele livro, você pode pedir para ela me emprestar?”. E eu devolvia todos no mesmo estado em que tinha recebido, e ainda por cima lendo o mais rápido possível porque, como dizia minha mãe, não podia ocupar as coisas dos outros por muito tempo.

Isso não era por um mau hábito, mas pelo contexto que não me permitia comprar nenhum desses. Ou vocês acham que eu também não queria ter minha própria estante preenchida?

Acho que por isso eu nunca me importei em emprestar os meus. Tá, eu tenho um pouco de ciúme dos livros do Sherlock e A Hospedeira, e posso emprestar depois de colocá-los num plano de seguro, mas o restante eu empresto tranquilamente. Tenho um amigo que trabalha nas forças armadas e foi para uma missão com uma sacola de livros meus para ler onde a internet não funciona. Até hoje não sei se ele está cuidando bem deles ou esqueceu no meio da Amazônia.

Eu entendo que livros são caros e significam muito para gente, eu entendo o afeto, o cuidado que temos com cada um deles, cada título com o qual temos uma conexão e que fizeram parte da nossa vida como leitor ou nos trazem lembranças de alguma época. Mas também sou a favor de um relaxamento na política dos empréstimos, principalmente em prol daqueles que dependem da generosidade de alguém para ler um livro.

Em um acervo com 1.800 títulos eu chuto que pelo menos 10% poderiam ser emprestados sem maiores problemas e de boa vontade. Mas a estante não é minha e não estou aqui para determinar como as pessoas devem tratar seus livros, apenas para incentivar um pouco mais de troca.

E, claro, dar um puxão de orelha em que não cuida dos emprestados.

Sério, me ajuda a te ajudar.

Conheça meus livros

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa