Bastidores

Janelas

Entre o fim de fevereiro e o início de março, eu mudei de apartamento. Mudanças não são o meu forte, em nenhuma categoria. Gosto de morar no mesmo bairro (meu endereço ainda é na mesma rua), de trabalhar no mesmo horário, dos móveis no mesmo lugar, de malhar na mesma academia e de pegar o mesmo caminho pra ir e vir – embora esse não seja o melhor recurso de segurança quando se mora em uma cidade como a minha.

Mas, por força das circunstâncias, não foi possível permanecer no mesmo apartamento e precisei encaixotar meus pertences e transportar de um imóvel para o outro.

Na casa anterior, a primeira característica que me chamou atenção foi a vista da janela da cozinha. Assim que entrei naquele cômodo – com a voz da corretora atrás de mim alertando sobre a quantidade de outros interessados no imóvel -, abri um sorriso e pensei “Tem uma vista!”. 

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Reduza as expectativas da sua imaginação. Não era a vista para o mar, nem para um parque verde, tampouco para uma paisagem digna de papel de parede do Windows. Eu moro em um bairro popular comum e aqui não tem nada disso, pelo contrário, ao lado daquele apartamento ficava um canteiro de obras onde eram despejados todo tipo de entulho e lixo. Mas não importava. O que importava era que eu conseguia ver o céu até perder de vista. 

Naquele dia o céu estava limpo e azul. Muito bonito, o tipo de beleza que me bastava dentro do aluguel que eu podia pagar. Então fechamos o contrato e todos os dias quando eu levantava da cama, a primeira coisa que fazia era ir até a janela da cozinha ver o céu. 

Ao procurar um novo apartamento, muitos critérios tinham que ser levados em conta (entre eles, claro, não impactar muito a minha rotina, afinal, eu odeio mudanças), e o último deles, infelizmente, foi ter uma janela virada para o céu. Assim, eu vim parar em uma casa em que para onde quer que olhe, ou vejo janelas e cômodos de vizinhos, ou vejo paredes escurecidas e manchas de infiltração. Um pouquinho só de céu dá pra ver da janela da sala, assim como as flores que ornamentam a entrada do prédio – não é muita coisa, mas é alguma coisa.

Céu, luz solar, calor, nuvens, tudo isso impacta diretamente no meu humor. A natureza tem tudo pra melhorar nosso dia e é de graça. O sol nascendo e se pondo, uma nuvem com aparência de algodão, uma revoada de passarinho, uma lua que você consegue ver inteira só de abrir a cortina. Esse é o espetáculo a que nós, pessoas comuns, podemos assistir todos os dias. Se puder não abrir mão dele, não abra.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa