Eu tenho um ciclo de escrita que não é proposital, mas não falha nunca. Começa com uma ideia que vem na minha cabeça como uma pancada. Para me livrar da dor eu quero começar a escrever sobre ela imediatamente. O problema é que geralmente eu estou trabalhando em uma outra história e tenho mais trinta e cinco enredos na frente que acho igualmente incríveis.
Depois que começo a escrever, a empolgação é tão grande que o sentimento é de que ninguém pode me barrar. Eu sou uma escritora talentosíssima. Olha esse enredo, que original, que cativante. Olha esse personagem, quem poderia pensar nisso senão eu? Então engato num ritmo de escrita veloz e furioso. As cenas que antes estavam na minha cabeça vão para o papel com precisão e criatividade.
Quando esse arsenal de ideias acaba – e comigo eles sempre acabam! – eu paro e posso ouvir o desespero chegando. É curioso como consigo ver com clareza o início e o fim de uma história. Eu sei exatamente como começar e como terminar, mas chega uma hora que não sei como ligar os pontos!
Esse é o momento em que minha mente bloqueia, cansa, faz greve, se recusa a trabalhar com a mesma produtividade de antes. É o momento em que começo a reler o que já escrevi e penso: pra isso que fui alfabetizada? Eu deveria ser presa por escrever uma coisa tão ruim. Quem ler isso pode me pedir indenização, eu pago. O que antes fazia tanto sentido, nesse momento não faz mais. E eu olho lá pra frente, para o final da minha história, e vejo como tudo ia acabar bem. Como se fosse uma montanha com uma vista linda lá em cima, mas o caminho é de mata fechada e eu não sei como continuar. Estou perdida e não tem bombeiro no mundo que me salve.
Foi assim que eu desisti de tantos livros que eu não saberia dar o número exato aqui para vocês. Eu simplesmente não tinha ideia de como prosseguir com as próximas fases e me sentia tão incapaz e impotente que qualquer esforço parecia inútil. Então eu deixava pra lá até surgir outra grande ideia e começar tudo de novo.
Hoje, com uma visão mais madura, eu sei como trabalhar para que isso não aconteça – a parte de desistir, porque a parte de achar minha história horrível ainda acontece, inclusive está acontecendo agora. Mas a essa altura eu consigo compreender que escrever um livro pode ser como correr uma maratona, onde em vez de gastar toda a sua força no começo, você vai devagarzinho, com constância, com ritmo, e assim terá fôlego para chegar até o final.
Outro modo de evitar o bloqueio é fazer um planejamento mínimo da narrativa. Eu, pessoalmente, gosto de escrever no estilo livre, sem me amarrar a cenas pré-elaboradas. Porém, construo a minha história em cima de três atos e eles me servem como um guia geral para que eu possa me orientar quando estiver perdida. Assim, sei exatamente o que acontece no começo, no meio e no fim, o que facilita a construção das cenas, porque consigo enxergar para onde cada uma vai me levar na escrita.
Esse é um exercício recente que venho testando no meu romance atual, e tem funcionado, muito embora de vez em quando eu ainda trave em saber como encaminhar a trama de um ato para o outro. Mas nada que se compare ao que eu sentia antes.
Sim, estou pensando agora que minha história é horrível. Mas vai melhorar.
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