Quando você é criança e escuta pela primeira vez que os personagens dos contos de fadas foram felizes para sempre você imagina que a partir dali se estenderá uma condição permanente de júbilo. Felizes para sempre… sempre… nunca mais serão tristes, apenas felizes, para sempre.
A felicidade, no entanto, pode durar menos que uma xícara de chá. Você prepara um sabor novo e o primeiro gole desce quente e adocicado. Na metade da xícara, a bebida já está meio fria e você descobre um amarguinho lá no final da língua, pronto, já se acabou a felicidade de degustar.
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A felicidade pode durar exatamente meio quilômetro, a distância que você percorre até notar que entrou na rua errada e agora precisa enfrentar um congestionamento irritante até o próximo retorno. Dura um sinal vermelho, cantando o refrão da sua música favorita, antes do semáforo abrir e o motorista de trás buzinar como se só ele precisasse chegar no trabalho.
Ser feliz é acordar cinco minutos antes do despertador tocar e virar para o lado para aproveitar mais um pouco, sabendo que a felicidade vai acabar já já. É o tempo apenas de ligar a cafeteira, ansioso para o primeiro café do dia, e ver que o pó acabou. É o tempo exato de comer uma barrinha de chocolate até o final.
Viver é um eterno ficar feliz, ficar triste, ficar empolgado, ficar frustrado, ficar tranquilo, ficar irritado, ficar em paz, querer entrar em guerra, se importar com tudo ou apenas deixar pra lá. Já diria o poeta, puxa e encolhe. O que definitivamente a vida não é, é felizes para sempre.
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