Quando criança, eu imaginava um futuro com carros voadores, roupas metálicas e teletransporte. Na minha mente, eu estaria dentro de um automóvel andando sobre ruas estupidamente limpas, prédios escandalosamente altos e espelhados, e totalmente confiada a uma inteligência artificial que diria com voz aveludada: “Seu destino está próximo”, e então deslizaríamos suavemente até o chão.
Hoje estou no futuro e em vez de uma voz aveludada o que eu ouço é uma gritaria, e uma gritaria sem som porque se trata de uma gritaria de caracteres. Para onde quer que eu olhe, várias pessoas, inúmeras delas, uma verdadeira multidão, fala de mim. Elas falam sem quem eu possa ouvir uma voz sequer e mesmo assim é insuportável. Falam perto, falam longe, falam verdades, falam mentiras, falam em letras grandes, em letras miúdas. Falam, falam, falam sem parar. E eu não posso tampar os ouvidos porque ainda consigo vê-las, não posso fechar os olhos porque elas continuam a rodopiar ao meu redor, não posso falar mais alto pedindo que se calem porque elas simplesmente não poderão ouvir.
Eu não sabia que no futuro era assim, não foi essa a inteligência artificial com a qual eu gostaria de conviver. Eu não queria algoritmos, eu queria um carro voador, eu não queria um sistema de busca onde seja fácil encontrar meu nome, eu queria ver os prédios bonitos da janela; eu não queria que sobre a minha cabeça estivesse um véu tão fino e desintegrável, eu queria olhar para cima e estar tão perto do céu que seria possível tocá-lo.
Eu não queria que tanta gente soubesse quem eu sou. Eu queria descer suavemente até o chão e apenas caminhar.