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Bastidores

#6 Medo do escuro

A minha vida foi recheada de medos. Posso dizer que boa parte dos problemas que já tive foi por medo de alguma coisa. Coragem nunca foi o meu forte, é o parafuso que a cegonha deixou cair quando me transportava até a minha casa. 

O mais bobo deles é o medo do escuro, mas também é o medo que resume todos os outros. Quando criança, morei em uma casa onde o meu quarto ficava bem longe do único banheiro e eu tinha pânico de atravessar todos os cômodos para chegar até lá. Bom, você já pode imaginar o que acontecia no meio da madrugada. Mas eu não tinha – não tenho – medo exatamente do escuro, do breu, mas do que eu não consigo ver; porque se não consigo ver, eu estou entregue ao desconhecido, um oponente difícil de enfrentar.

Na infância, a fantasia do fantasma me apavorava. Os monstros embaixo da cama, uma mão que poderia surgir por trás da parede, um sussurro ao pé do ouvido – Deus me livre! Debaixo da coberta é mais seguro, coloca o pé para dentro que nada te puxa. Na vida adulta, são outros fantasmas. 

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O fantasma da solidão, da mediocridade, da punição eterna, da vergonha, do fracasso, da feiura do corpo, da pobreza, da morte, do sofrimento… principalmente do sofrimento. O indivíduo que tem medo demais é um sujeito que tem um medo exagerado de sofrer, e por medo de sofrer ele já sofre antecipadamente, como se pudesse parcelar, diluir, aquele sofrimento até chegar no momento exato da sua origem. Muitas vezes, esse lugar nem existe e o sujeito – eu – sofreu por nada, teve medo à toa. Acho que alguma especialidade médica define isso como ansiedade. 

Bukowski disse: “E em algum lugar, ainda existe luz. Pode não ser muita luz, mas ela vence a escuridão”. Luz é coragem. Não de encarar o medo de frente, mas de dar pouca importância àquilo que não se pode ver ou controlar. E daí se eu reprovar naquela entrevista? E daí se eu for deixada pelo meu amor? E daí se eu falir? E daí se minha pele murchar? O medroso tem uma necessidade quase patológica de se sentir seguro e a única segurança que existe está em algo além de nós. Por isso, o único medo aceitável – se é que eu posso chamar de medo – é o medo de virar as costas para o amor de Deus. O medo da soberba de Lúcifer, que nunca pôde voltar atrás, o medo da blasfêmia e da arrogância. 

A Bíblia está cheia da frase “Não temas”, muitas vezes seguida de “Eu estou contigo”. Que segurança maior existe do que a mão de Deus? 

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa