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Para Leitores

[Resenha] O Mundo Conhecido – Edward P. Jones

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Sinopse

Henry Townsend e sua família foram escravos de William Robbins, um rico e poderoso fazendeiro da região da Virgínia, EUA, por muito tempo. Augustus, pai de Henry, trabalhou em serviços externos até conseguir comprar sua liberdade e a de sua família, fazendo do seu filho um homem livre ainda na juventude. Porém, Robbins seguiu como mentor de Henry, principalmente nos negócios. E fora ele quem vendeu a Henry uma fazenda e seus primeiros escravos.

Resenha

Vamos por partes.

A primeira coisa que Edward P. Jones consegue fazer com maestria nesse livro é mesclar passado, presente e futuro não só na mesma história, como na mesma cena, e, às vezes, no mesmo parágrafo. Isso pode parecer estranho e confuso no começo, mas depois você pega o ritmo e acha a estrutura narrativa genial porque dá ao leitor uma visão ampla dos personagens, antecipando eventos que são tão importantes de serem conhecidos que não podem esperar por uma cronologia tradicional.

Logo no início acompanhamos a reação de um escravo à morte de Henry, e você se pergunta qual o motivo de revelar na primeira página que o personagem central morre e tudo o que eu peço é apenas que confie no autor, siga em frente.

O segundo feito de Jones é uma aula de introspecção nos personagens, a escolha ideal para mostrar como o sistema escravocrata suborna até mesmo aqueles que são vítimas dele.

“Sou imperfeito, ele [John Skinffington] dizia a Deus todas as manhãs quando se levantava da cama. Sou imperfeito, mas ainda sou barro em vossas mãos, andando da maneira que quereis que eu ande. Moldai-me e ajudai-me a ser perfeito a vossos olhos, ó Senhor”.

Quando Augustus tem conhecimento de que seu filho, negro, ex-escravo, vai seguir com a escravidão, ele se choca. E sua mãe, Mildred, revive na memória os conselhos que deu ao filho ao longo da vida e não se lembra de nenhum deles ser comprar escravos. Porém, para Henry, não há nada de errado em ter seus próprios crioulos, a lei permite, e se a lei permite, ele não deve ser punido ou criticado.

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A ausência dessa brecha para autoconsciência é um reflexo de uma sociedade que valorizava as pessoas pela cor da pele e pelo tamanho de suas propriedades. Ainda que um negro estivesse bem abaixo dos brancos na escala social, se ele fosse livre e tivesse um ou dois escravos, ele era um pouco mais respeitado, sendo, inclusive, abrangido pelas leis que protegiam os “patrões”.

“Um escravo fujão era, na verdade, um ladrão, já que há via roubado a propriedade de seu dono – ele mesmo”’.

E Henry não é o único na região nessa condição. Negros que eram escravizados por outros negros estranhavam, mas até mesmo suas capacidades de reflexão foram roubadas, então o pensamento parava mais ou menos em “bom, isso não é normal, mas eu sou apenas um escravo, não tenho muito o que dizer”.

O livro se passa ao redor da fazenda de Henry, mas não se limita à sua história. Moses, seu capataz, sua mulher Priscilla, Elias e sua mulher Celeste, e Alice, a escrava “louca”, são personagens profundos que compõem a narrativa no mesmo grau de importância que Augustus e Mildred, os pais de Henry, Caldonia e Calvin, sua esposa e seu cunhado, e muitos outros familiares e sujeitos próximos, como o xerife, os patrulheiros, e, claro, William Robbins.

Outra característica interessante é que os capítulos, longos, são nomeados com três frases que funcionam como uma espécie de resumo do que está por vir. Em um primeiro momento parecem palavras soltas, sem sentido, mas quando você termina o capítulo e volta para o começo, vê que nada ali foi escrito aleatoriamente.

Essa é uma história que me remexeu por dentro e me tocou profundamente. A última frase quase me fez chorar, embora se tratasse de um personagem não muito amigável durante a trama. Aliás, é importante pontuar que aqui ninguém é totalmente ruim (bom, ok, alguns são), ou totalmente bons. Não há heróis ou salvadores da pátria. Existe a escravidão, a injustiça, a inocência, a culpa, a redenção e o sistema.

Sobre o autor

Edward P. Jones ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção em 2004, o PEN/Hemingway Award e foi um dos finalistas do National Book Award por sua coleção de histórias de estreia, Lost in the City. Beneficiário da Lannan Foundation Grant, Jones mora atualmente em Arlington, Virgínia. O Mundo Conhecido é seu primeiro romance. (Fonte: Ed. José Olympio 2006)

Sobre o livro

Título: O Mundo Conhecido
Autor: Edward P. Jones
Ano: 2006
Editora: José Olympio
Páginas: 404
Avaliação: 5/5

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa