Jerônimo sonhou que realizava um grande feito.
Em sua mente adormecida ele se viu em cima de um palco, vestido em um bom terno, debaixo de holofotes e sob os olhares atentos de uma plateia cheia de expectativa.
Era cerca de 10 anos mais velho e sua oratória era perfeita. À medida que explanava suas ideias, via as luzes refletidas nos olhos de quem ouvia. Em um evento histórico, ele anunciava que descobrira como viabilizar a distribuição de água potável para todas as comunidades do mundo que sofriam com a escassez.
Acordou eufórico, certo de que aquele era o seu propósito e a sua missão na Terra. Passou dias contando para a esposa como iniciaria os estudos e como a ideia amadurecida daria frutos em um projeto que entraria para a história.
Dez anos depois ele permanecia no mesmo lugar. A aparência bem diferente do sonho. Em vez da pompa, o anonimato do seu escritório doméstico, no lugar do terno, o pijama amarrotado; e nenhuma plateia ao redor, apenas a esposa pedindo mais uma vez que ele voltasse a procurar um emprego comum e ficasse menos obcecado com a ideia de salvar o mundo.
“É o que preciso fazer, é o meu destino”, ele repetia, enquanto as contas eram pagas pela metade e os dias iam embora por inteiro.
Salvar o mundo se tornou, afinal, a fuga perfeita para não salvar o básico.
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