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Bastidores

#4 Se eu tivesse feito diferente

A minha primeira grande lição de vida veio aos dezessete anos de idade, no dia do resultado do vestibular. Fui uma aluna mediana no ensino médio, boa em Português, Redação e Literatura (por isso você está aqui), e muito ruim em Física, Matemática e afins (por isso eu calculo os dez por cento do garçom no calculadora). Acontece que em algumas circunstâncias é preciso se concentrar mais no que se tem de fraco no que se tem de forte porque você irá precisar que tudo jogue ao seu favor para se sair bem.

Não entremos no mérito do sistema de avaliação brasileiro ou de como as estruturas escolares são construídas para formarem operários e não exatamentes pessoas inteligentes, apenas encaremos os fatos: se você é pobre, um dos caminhos lícitos para crescer é passar no vestibular e entrar em uma boa faculdade. Mas eu estudava Língua Portuguesa com muito gosto e fingia que a fórmula do movimento não existia. Eu sabia classificar uma oração, mas não sabia – e ainda não sei – o que é um logaritmo e nem como diferenciar os tipos de triângulos. 

Naturalmente, levei bomba no vestibular daquele ano e em todos os anos seguintes aos quais me propus passar o fim de semana inteiro sentada fazendo uma prova até aceitar fazer a graduação em que conseguia entrar e não exatamente naquela em que as chances de ser bem sucedido eram maiores. Até porque eu precisaria me esforçar mais para isso e eu não queria. Essa era a expressão, não querer, ter uma vontade fraca e desintegrável. Essa decisão preguiçosa me custou, e ainda custa, muito.

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Para quem não sabe para onde ir, qualquer lugar serve, e você irá descobrir que qualquer lugar é uma cadeira de plástico desconfortável onde você fica sentado enquanto a água da caixa do ar condicionado pinga no seu ombro. Você está do lado de fora, sob um sol escaldante e com apenas uma garrafinha de água quente na mão. 

É claro que você pode se levantar e ir embora, mas para onde? Você já sabe que não pode sair simplesmente andando por aí. Ali, apesar de qualquer coisa, pelo menos ainda faz um pouco de sombra. Se apenas sair sem rumo pode ir parar em um lugar pior.

Erre o que tiver que errar, mas evite decisões preguiçosas. Fuja da lei do menor esforço, da acomodação e da inércia. “Tanto esforço para nada” ainda é melhor do que “E se eu tivesse me esforçado?”.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa