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Bastidores

#9 O sol se põe a hora que quer

Moro em uma cidade litorânea e um passeio muito comum entre os moradores daqui é assistir ao pôr-do-sol na praia. Há dias em que realmente está espetacular e há dias em que as nuvens ficam com ciúmes e nos impedem de ver, como um vigia de circo que descobre que você está espiando pela brecha da lona.

Então, em um sábado ensolarado qualquer, você decide ir até à praia no fim de tarde, pega o carro e desce as avenidas largas da Beira-Mar até perceber que todo mundo teve a mesma ideia que você. Não tem lugar para estacionar, não tem uma cadeira vazia em uma barraquinha de água de coco, até a faixa de areia está lotada. E o sol não está esperando você se acomodar para deitar no horizonte, para ser sincera, ele não está nem aí.

A hora em que o sol irá se pôr é um dos muitos eventos na vida que eu não controlo, mas eu ainda teimo em querer interferir em quase todos os outros. 

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As ações das outras pessoas, por exemplo, estão tão naturalmente fora do meu alcance quanto a rotação da Terra e eu não perco um só segundo pensando no Sistema Solar, mas deixo a angústia ocupar meu coração ao pensar em como as pessoas vão agir nesta ou naquela circunstância. Às vezes, espero que elas ajam como eu quero, como é mais confortável para mim, mas é uma expectativa tão fora da realidade quanto exigir que o sol se ponha com uma tonalidade mais rosada do que laranja.

Nos momentos de lucidez, gosto de fazer a seguinte piada: “Isso já não é minha jurisdição”, como um agente da polícia que entende, e respeita, que dali pra frente já não pode mais fazer nada para resolver a questão. O erro é querer ultrapassar a faixa amarela e despender energia em situações cujos resultados eu não consigo prever e muito menos alterar. 

Lembrar-me sempre de que as coisas são o que são. O sol se põe às 17:58, mas às vezes às 18:03, não importa o que eu faça; cada um decide conforme sua consciência, não importa se vai me fazer bem ou mal; se eu fiz a parte que me cabia, no resto eu não posso, e nem consigo, interferir, não importa o quanto de ansiedade isso irá me causar. As coisas são o que são. A realidade não engana ninguém.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa