Neste texto, para cada história de fracasso, uma história de vitória.
Lembram do Soletrando? O quadro do Caldeirão do Huck em que crianças soletravam palavras? Mais ou menos aos doze anos de idade fui selecionada para a etapa estadual e errei a primeira palavra. Eliminada. Aos dez anos, ganhei meu primeiro concurso de redação. Estudei boa parte da minha vida em escolas públicas e no ensino médio fui transferida para uma escola particular, onde na primeira prova de História acertei apenas uma questão. Aos dezenove anos, ganhei um prêmio literário e publiquei meu primeiro livro. Não consegui passar no vestibular quando todo mundo passou. Mas não reprovei na minha prova prática de direção. Estive em apenas um relacionamento sério e já fui rejeitada incontáveis vezes. Já senti amor de verdade e escolheria sentir de novo. Não tenho o emprego dos sonhos. Já li cinquenta livros em um ano. Acho que nunca realizei nenhum sonho de verdade, mas já realizei alguns pequenos desejos, como ver o sol nascendo da janela de um avião. Ainda não comi em um restaurante Michelin. De vez em quando posso comer no meu restaurante favorito da cidade. Desisti de vários projetos na metade. Passei por uma transição capilar e aceitei meu cabelo como ele nasceu em mim. Sempre que sinto inveja, me sinto uma fracassada. Ao longo de minha vida, fiz bons amigos. Já comi compulsivamente. Nunca toquei em nada alcóolico e, por consequência, nunca tive um porre. Tenho dificuldade em dizer “eu te amo”. Com frequência, sou tratada com generosidade. Já odiei meu pai. Perdoei e fui perdoada. Já fui arrogante com Deus. Fui perdoada.
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