Desde muito jovem nutri um interesse pelo incomum; não o incomum esquisito, grotesco, e sim o incomum como sinônimo de infrequente, ou, em outras palavras, aquilo sobre o qual não se falava muito, ou não se falava de jeito nenhum.
As pessoas ao meu redor costumavam consumir os mesmos conteúdos, se interessar pelos mesmos assuntos, desejar os mesmos desejos e frequentar os mesmos lugares. Eu tinha curiosidade em saber o que havia além da borda desse círculo.
Na minha cidade não havia teatro e eu tinha muita vontade de entrar em um e assistir a um espetáculo. Por causa disso muitas vezes fui – e ainda sou – taxada de erudita com aquela saliva pejorativa escorrendo pelo canto da boca. Quando passei a me interessar por música clássica, ou por músicas alternativas que as pessoas não estavam acostumadas a ouvir, me achavam metida. Quando decidi me aprofundar na Literatura, era vista como nerd.
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Contudo, nunca fui motivada pela intenção de brilhar como uma pedra preciosa no meio das demais, eu apenas sabia que havia muito, muito, mais ao meu alcance e eu podia ir seguir adiante e conhecer além das colinas.
Costumo dizer que esta é a melhor época para ir além. Em um clique eu tenho acesso a livros, documentos, espetáculos, concertos, obras de arte, aulas, palestras, um conteúdo rico e quase ilimitado que eu posso acessar apenas mantendo o pagamento da minha linha de internet em dia. Por que eu me contentaria com o básico se posso explorar o mundo inteiro?
É certo que a experiência não é a mesma do que estar de corpo presente diante de toda a beleza que existe debaixo do sol. Seria muito mais proveitoso ver, ouvir, cheirar, tocar e comer com os meus cinco sentidos, mas ainda é muito melhor do que nem sequer saber da existência das coisas, como as gerações passadas.
Não há motivo para se contentar quando você pode esticar as mãos e tocar o infinito.
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