Nunca gostei de baladas, de festas e de bebidas, entrei na juventude com o espírito morno de quem acha a música alta demais, o lugar cheio demais e o conforto menos demais. Definitivamente, horas em pé não é para mim – mas ainda me submeto vez ou outra em um show de um artista do qual eu gosto.
Sempre preferi os lazeres que convidam à contemplação. Cinema, literatura, espetáculos de teatro, atrações em que você precisa estar atento para se entreter. Não digo que são melhores ou piores do que as baladas, são apenas diferentes. Para algumas pessoas, o êxtase está em sacudir o corpo no ritmo da batida e sob luzes azuis no teto. Para mim, é me encolher no sofá de casa ou na poltrona da sala de cinema e assistir à perfeita combinação entre uma cena e uma trilha sonora.
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Minha relação com os momentos de lazer é compensatória, eu faço a minha parte e me recompenso por isso. Caso não faça, não tem o mesmo sabor. Não gosto de experimentar a sensação de que estou me divertindo à toa, de maneira desencaixada, principalmente porque já somos, natural e nocivamente tendenciosos ao repouso. No meio de muitos lazeres desenfreados, a acídia nos seduz até nos enlaçar, e quando nos dermos conta estaremos imersos no lamaçal da preguiça e da inércia.
Tenho medo da rotina que não afrouxa por nem um momento, que não te deixa respirar nem descansar. Mas também tenho medo da vida em que tudo é lazer e prazer. Luciferina, fatal.