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Para Leitores

[ Releitura ] O Apanhador no Campo de Centeio – J. D. Salinger

Esse é um texto que eu escrevi em 2018, primeira vez que li O Apanhador no Campo de Centeio (e me apaixonei!). Cinco anos é suficiente para você revisitar obras e encará-las com um outro olhar. Dito isto, o texto antigo continua válido, mas eu gostaria de acrescentar outras percepções.

A primeira delas é que eu pude ver com mais clareza as peculiaridades que caracterizam a adolescência de Holden. Ele é expulso da escola – de novo – e fica perambulando pela cidade até chegar o dia em que inevitavelmente terá que enfrentar os pais. Para ele, a expulsão não é tão grave assim, pelo contrário, quanto menos tempo pudesse passar com aqueles cretinos (nas palavras dele), melhor. 

Nesse meio tempo, ele faz coisas de “adulto” para talvez tentar se sentir menos errado. Uma coisa meio “eu cuido da minha própria vida, para quê escola?”. Mas a realidade é que ele não é tão crescido assim e isso é lançado na sua frente o tempo todo.

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Se ele vai de bar em bar, alguns garçons não querem atendê-lo por ser menor de idade; se ele dá em cima de alguma mulher, ela acha o papo dele esquisito; se ele contrata uma garota de programa, desiste em cima da hora por ser virgem. As únicas vezes em que ele consegue se desenrolar, é na companhia de outros adolescentes, por mais que ele não queira.

Entrando na questão familiar, Holden dá trabalho, mas não chega a ser um jovem problemático. Ele tem uma boa relação com os irmãos e ainda sofre a morte de um deles. Ele pensa em fugir de casa, mas quando a irmã caçula cisma que vai junto, Holden percebe que às vezes a irresponsabilidade respinga em quem não tem nada a ver com a história.

Você também já quis fugir de suas obrigações, já quis largar a escola, já quis fugir de casa, já aprontou, já se sentiu sozinho, já chorou, já se sentiu um merda, porque isso é ser adolescente. Agora vejam que interessante: a única coisa que faz Holden Caulfield se sentir bem é ser um possível apanhador no campo de centeio.

Quando a irmã pergunta “Do que você gosta? Você não gosta de nada, está sempre reclamando de tudo”, ele responde que se garotinhos brincassem em um campo de centeio, ele gostaria de ser a pessoa que fica na beira do princípio cuidando para que ninguém caia.

Ora, o que curaria todas as angústias de Holden – e de todo mundo que quer deixar de ser mentalmente jovem – é ser útil, amadurecer e não viver só para si e suas demandas.

O outro ponto, e esse é o que me agrada mais, é que naturalmente eu sou alguém um pouco resistente a conteúdo de humor (livros, filmes…). Não consigo achar graça na maioria das coisas que se propõem a ser de comédia, e embora essa não seja exatamente a intenção de O Apanhador no Campo de Centeio, é o único livro até hoje que me fez dar sinceras gargalhadas.

O humor ranzinza, sarcástico e debochado de Holden é fenomenal. Eu vou e volto no texto várias vezes e rio de verdade. É maravilhoso.

“Esse que é o problema todo. Não se pode achar nunca um lugar quieto e gostoso, porque não existe nenhum. A gente pode pensar que existe, mas, quando se chega lá e está completamente distraído, alguém entra escondido e escreve ‘Foda-se’ bem na cara da gente. É só experimentar. Acho mesmo que, se um dia eu morrer e me enfiarem num cemitério, com uma lápide e tudo, vai ter a inscrição ‘Holden Caulfield’, mais o ano em que eu nasci e o ano em que morri e, logo abaixo, alguém vai escrever ‘Foda-se’. Tenho certeza absoluta”.

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa