Um dia, eu li que algumas pessoas sentiam falta de pesquisar sobre um conteúdo na internet, mais especificamente no Google, e encontrar respostas escritas, como em um blog, em vez de vídeos, como no Youtube ou no Tiktok. Seria uma demanda nossa, dos millenials, que vimos o search se popularizar, mas antes dele tínhamos que nos virar?
Nasci e cresci em uma cidade no interior do Maranhão onde havia uma única biblioteca, no centro de uma praça, e na minha memória era um prédio grande com uma rampa comprida que levava ao andar superior; mas sei que, na realidade, é um prédio modesto com umas janelas de vidro voltadas para a igreja.
Quando criança, a professora pedia um trabalho de um pesquisa sobre um determinado assunto e lá íamos nós, um grupo de quatro ou cinco pequenos estudantes, sob o sol das três da tarde, assinar o nome na entrada da biblioteca, ir até as prateleiras, puxar um volume grosso e empoeirado de uma enciclopédia, encontrar conteúdo sobre o tema e copiá-lo para uma folha pautada. Entre uma página e outra, começávamos a conversar alto demais e lá vinha a moça com a cara enfezada pedir silêncio.
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Toda essa dinâmica ficou para trás quando instalaram os primeiros computadores. Passamos então a nos sentar na frente de um monitor preto ou branco e dar os primeiros passos no infinito universo do Google sem saber o que era palavra-chave, quais sites eram confiáveis e como evitar os links virulentos.
Já na adolescência ganhei meu primeiro computador e naquela época a advertência mais repetida pelos professores era sobre a pouca credibilidade do Wikipédia, então pesquisávamos aqui e ali e, no fim, surgia um trabalho um pouco Frankenstein, mas escrito com nossas próprias palavras, que era o que importava.
Na faculdade, havia uma biblioteca universitária ao meu dispor, mas confesso que usufruí muito pouco dela – me arrependo – e a internet ainda era minha maior aliada, com a diferença de que agora eu sabia como encontrar artigos acadêmicos e não podia me esquecer das regras da ABNT.
Hoje, com quatro ou cinco anos de profissão, o Google ainda vive, a Wikipédia também, as bibliotecas ainda estão de pé, mas também tenho à minha disposição o Youtube, o Tiktok, o Instagram, os drivers com materiais, os sites especializados e, claro, o Chat GPT. De todos estes, ainda me interessam mais os que me retornam em texto escrito a minha busca – exceto se eu estiver procurando como montar um móvel, então é melhor assistir a alguém executando do que ler um manual de instruções com poucas ou nenhuma figura.
Porém, embora nada prático, ainda sinto um pouco de falta do método analógico de pesquisa, de passar o dedo nas páginas amareladas das enciclopédias, de consultar sumários, de abrir três livros para encontrar o que eu queria – o que equivale mais ou menos a abrir abas no navegador -, de falar baixinho para não levar bronca da bibliotecária e de pegar um livro emprestado e não me esquecer de devolver. De certa forma, havia uma certa magia em pegar livros emprestado na biblioteca, você não manuseava de qualquer jeito e nem deixava largado em qualquer lugar – nem sempre você é cuidadoso assim com seus próprios livros! – e ainda precisava estar atento ao dia da devolução.
Mas acho que a melhor parte mesmo era marcar de encontrar os amigos na rua atrás da igreja e irmos todos com uma pastinha na mão, se esgueirando pelas sombras nas calçadas até a biblioteca, depois voltar para casa, no fim da tarde, e fazer a capa do trabalho com canetinha hidrográfica para entregar no dia seguinte. Esse tipo de lembrança nenhum Google e nenhum grupo no Whatsapp substitui.
2 Comments
Samantha
Que texto gostoso de ler, muito nostálgico, rs.
Também sinto falta dessas sensações de fazer as coisas, longe da esterilidade das telas. Ainda sou uma leitora de blogs, é um formato que não abro mão.
Sabryna Rosa
Obrigada por sua leitura, querida!