Quando eu era criança, eu não sabia muito bem o que eu queria ser quando crescesse. Agora que cresci, continuo não sabendo.
Uma das minhas maiores crises existenciais aconteceu no meio da faculdade, quando me dei conta de que não queria ser jornalista nem quando saísse dali e nem em qualquer outro tempo. Hoje, sou jornalista há cinco anos.
Todo mundo tem uma profissão dos sonhos? Eu nunca tive. Nada nunca me brilhou os olhos como eu via os olhos das outras pessoas brilharem com, por exemplo, as carreiras jurídicas, as militares; ou com a possibilidade de trabalhar com a terra, com os animais; ou quem ainda sabe dar aulas, cuidar de crianças ou realizar cirurgias. Nada nunca acendeu um fogo dentro de mim e me fez gritar É isso! É isso que eu quero ser para sempre.
Talvez a única vez em que eu tenha chegado mais ou menos perto foi ao me imaginar escrevendo livros e falando sobre Literatura – quem sabe dentro de uma sala de aula -, e é somente aqui que eu experimento um pouco desse contentamento profissional, quando sento para ler e escrever. É a única tarefa que não me dá vontade de me demitir.
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A ausência de uma carreira dos sonhos me fez olhar as profissões de uma maneira bastante prática: o que eu posso fazer que eu não odeie e que me permita ter uma vida confortável? Parece um jeito simplista demais de escolher uma ocupação que vai tomar uns dois terços da minha vida, mas, paciência, não se pode ter tudo.
Com a chegada dos trinta anos, qualquer tipo de êxito profissional, para mim, se resume a ter um salário que me permita ter um pouco de conforto, um pouco de lazer, e, o bem mais precioso no século vinte e um: um pouco de tempo.
Eu não me importo de não encontrar a profissão dos sonhos – sonhos que eu nem possuo – se o trabalho que eu tiver me deixar viver fora dele. Eu consigo lidar com uma certa mesmice profissional se depois do expediente eu tiver dinheiro na carteira para tomar um bom café ou se com o meu salário eu conseguir morar em um lugar com uma vista bonita. Não precisa ser de frente para o mar, só precisa ser bonita – ou, de outro ângulo, não ser a parede ou a janela do vizinho.
Não me importo de não ser exatamente bem sucedida se eu puder ajudar alguém que precisa apenas com uma transferência bancária. Se eu tiver opção na hora de escolher um serviço, um produto ou uma experiência. Se eu puder comprar meus livros. Se eu puder não me preocupar. Não com isso, pelo menos.
Como uma espécie de compensação, sabe? O trabalho como meio e não como fim. Trabalhar para fazer o que eu gosto e para ser quem eu sou depois do trabalho.
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