Há dez anos, eu achava que tinha todo o tempo do mundo e, de repente, o tempo passou e eu não vi. Pego-me olhando para trás, pensando o que eu fiz neste intervalo e me vem uma sensação de desperdício, como se tivesse deixado uma torneira aberta e me distraído com qualquer coisa lá fora. Quando dei por mim, estava inundada.
Mais do que ser um clichê, desejar voltar no tempo para tomar decisões diferentes é, sobretudo, inútil, porque de qualquer forma eu me arrependeria de errar, só seriam erros diferentes. Talvez menores, talvez menos prejudiciais, mas ainda erros. Não existe uma vida anestesiada onde você empilha todas as cartas e tudo cresce para cima. Mais cedo ou mais tarde você acaba derrubando este castelo, às vezes sem querer, às vezes propositalmente.
No entanto, se essa experiência assim me fosse concedida, eu não teria sido tola com um romance da juventude. Teria tirado as escamas dos olhos e entendido que eu não posso controlar as ações do outro, mas posso controlar as minhas reações e, principalmente, posso, devo, precaver-me. Até que encontre um porto para me atracar, apenas eu sou responsável pela minha autotutela, não é obrigação de ninguém me resguardar.
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Eu gostaria de ter entendido mais cedo que certas decisões precisam ser tomadas pelo viés da praticidade e não pelo afago que elas supostamente fariam em meu peito. A vida exige muito e nem sempre exige com carinho, então resolva da maneira mais eficaz.
Um grande erro foi ter deixado a escrita de lado porque os meus textos são uma extensão de mim, é a parte que irá permanecer na Terra quando todo o resto apodrecer. O meu túmulo algum dia será substituído por outro, a terra preta e lamacenta acima de mim vai me jogar cada vez mais para baixo, até eu me fundir a ela e retornar ao pó, enquanto o que eu escrevi ainda poderá vagar por aí.
Queria ter dado mais atenção ao que não volta e só agora, esperando voltar, eu percebi que não vem. Queria ter organizado a estante do certo e do errado antes dos 25 anos porque arrumar agora foi como trocar as unhas do dedo de lugar, doloroso e esquisito. Queria não ter ficado para trás porque eu não sou boa em corrida e daqui, já sem fôlego, ainda não vejo a linha de chegada.
Queria ter tido mais curiosidade e ter sido menos conformada. Não tenho muitas histórias para contar e dez anos é bastante tempo para criar histórias, pena que agora, olhando para os dez anos à frente, eu não sei nem por onde começar.
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