Numa determinada sessão de terapia, a psicóloga perguntou quais sonhos eu tinha e eu respondi que nenhum, zero – nada inflava meu peito. Otimista que era, ela me disse que não se podia viver assim e pediu que eu elencasse cinco sonhos em uma folha de papel. A muito custo, listei quatro, todos tão aleatórios quanto dizer que um urso polar tem como sonho enfrentar uma fila no Detran do Maranhão.
Já ouvi dizer que somos feitos da substância dos nossos sonhos, mas quando não se tem sonho nenhum significa que você é oco? Por um lado, até que não é tão ruim porque você pode pegar uma coisa oca e preencher com o que quiser; por outro, é triste porque em um espaço vazio você não tem onde se segurar. Até se você cair, tudo que tem pra te erguer de volta é o chão.
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Além do mais, todos os sonhos que ficaram naquele papel parecem distante demais, como olhar uma foto de paisagem num calendário e pensar “quero estar lá amanhã”, sendo que você nem sabe qual é aquele lugar, ou se existe no mundo real, e tampouco como chegar lá. É uma fantasia boba que dura o tempo que se leva para ir da cozinha até a sala, passando pela parede onde o calendário está pendurado.
Sonhos são para quem tem esperança e esperança é um artigo difícil de encontrar.
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