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Bastidores

#22 O que a pandemia levou de mim

A pandemia roubou de mim o que roubou de muitas pessoas: tempo. Naquele ano de 2020 eu era uma garota empolgada, com muitos planos e pouquíssimas queixas sobre a própria vida. No ano de 2023, eu já era uma mulher frustrada e sem ânimo.

É claro que o vírus nada tem a ver com minhas emoções, mas ter passado três anos trancafiada dentro de um quarto mexeu com as minhas energias. Quando tudo finalmente acabou, eu parecia ter atravessado sete mares dentro de uma jangada. Ou sete desertos com um par de chinelos ou sete túneis com um único fósforo aceso nas mãos, ou tudo junto, como uma prova de reality show. 

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Vi-me de repente com quase trinta anos, uma mente exaurida e as mãos calejadas. Perdida, não sabia que caminho tomar e sentia urgência em tomar decisões, e não decisões quaisquer, decisões que mais do que nunca precisavam ser certeiras e inteligentes. Uma voz acusadora dizia dentro de mim “o tempo de errar já foi, você não pode mais se dar esse luxo, o relógio em cima do seu ombro está acelerado, já foi, já foi, já foi, corre!”. Então, começaram as crises de pânico e a angústia que crescia como erva daninha no meu peito. 

Dos vinte aos trinta eu parecia ter a vida inteira, agora aos trinta eu sinto como se só me restasse a borra do café no fundo da xícara, a bolacha estraçalhada no fundo do pacote ou a última gota de Coca-cola, já quente e sem gás, balançando na latinha. Uma sensação de que os últimos três anos não existiram, que eu pulei de um lugar para o outro como se pula da casa de número três para a casa de número seis na amarelinha riscada no chão. Você dá um impulso e pimba! Torce pra não cair com um pé só. Eu caí e ainda feri os joelhos. Olho para o “céu” escrito lá em cima e tento de algum jeito chegar.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa