Bastidores

Onde crescem os leitores?

Ontem, deparei-me com a seguinte publicação da PublishNews: Com dificuldades históricas e estruturais, Brasil vive impasses na construção de uma nação de leitores. Essa matéria foi muito eficiente em elencar pontos problemáticos no processo de formação de leitores no Brasil. Logo no início, o texto aborda o papel fundamental dos mediadores, na escola, em ONGs, em projetos sociais ou na família. Pra mim, tudo começa dentro de casa. Na minha percepção, não tem projeto de leitura, ou professor, por mais bem-intencionado que esteja, que supra um núcleo familiar que entende a importância da leitura. 

Evidente que não é regra — eu mesma não vim de um lar leitor —, mas inúmeras histórias que eu já ouvi de adultos leitores apontam pra uma família que participava ou oferecia acesso aos livros (desconsidero aqui o fator recurso financeiro de modo muito sutil porque a depender de que contexto estamos falando, nem todo o auxílio do mundo faria uma família investir em livros. O buraco é bem mais embaixo). 

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Mas vamos supor que falamos de um cenário onde uma família pode adquirir e não adquire. De uma casa que tem tudo, menos alguns exemplares pelos cômodos, que os livros são tratados como bichos exóticos. A chance de sair uma criança/jovem leitor dali é muito pequena. As crianças que eu vejo empilhar livros lidos são crianças onde a mãe e o pai estão ao lado, seja lendo juntos, seja facilitando esse acesso conforme podem. Uma família que ignora a existência dos livros não pode exigir que a escola, o projeto social do bairro, ou qualquer outro agente, seja responsável pela formação intelectual do seu filho. 

Um outro ponto da matéria que me chama atenção é sobre a falta de pontos de venda. Com a quase extinção das bancas de jornais, por exemplo, não passamos mais por jornais, livros e revistas no dia a dia. Não esbarramos numa vitrine e levamos um livro qualquer pra casa, não vemos uma criança apontando pra um gibi da Turma da Mônica e pedindo pra comprar. Estou ciente de que isso é resultado de todo uma cadeia econômica e mercadológica que não é propícia, mas falando apenas pelo viés poético da coisa: quantos quilômetros você tem que andar pra chegar até a livraria mais próxima? 

Dentro de casa, é importante que o livro seja mais do que uma ideia abstrata, uma resolução de Ano Novo, mas um item tão comum quanto ter sapatos na soleira da porta. Ninguém se espanta de você ter sapatos em casa, o que pode chamar atenção são as cores, os modelos, as marcas. Criar esse ambiente de familiaridade é fundamental pra que o ato de pegar um livro depois do jantar seja tão natural quanto escovar os dentes.

Ainda assim, ainda que tudo concorra contra, eu ainda acho que é possível formar uma próxima geração de leitores se cada um se preocupar pelo menos com a própria casa. Não com o que governo x e y está fazendo a respeito, se a escola está fazendo a parte dela (que Deus ajude os professores, os que eu acompanho por aqui são muito, muito, esforçados), ou se “hoje em dia menino só quer saber de tablet”. É um processo que dá pra começar a resolver no micro.

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa