Bastidores

O que estou fazendo por Jesus?

No último sábado, assisti ao filme Silêncio (Martin Scorsese), que trata da perseguição aos cristãos no Japão, no século XVII. É, sem dúvida, um filme voltado ao público católico, e muitas cenas apertaram fundo o meu peito, despertando em mim compaixão por aqueles que, até hoje, são perseguidos por causa da fé, além de me fazer refletir sobre o privilégio que é poder manifestar minha religião sem sofrer represálias — ou, pelo menos, sem sofrer represálias que atentem contra a minha vida.

Em determinado momento do filme, camponeses são impelidos a pisar em imagens de Cristo e a maldizer a Virgem Maria, como prova de que não são cristãos. Eles assim o fazem, na tentativa de se manterem vivos, mas com o coração dilacerado. Não convencidos, os inquisidores elevam o nível do teste e os obrigam a cuspir na cruz. Dos quatro, três se recusam a descer tão baixo.

Foi inevitável, porém, visitar a minha própria consciência e me questionar quem eu seria naquela cena. Eu resistiria ou sucumbiria de imediato? Teria uma fé firme como a rocha ou frágil como a palha? Tremeria à primeira ameaça ou teria uma fagulha de coragem para defender nosso Senhor?

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O filme pode nos induzir a um falso julgamento de nós mesmos. “Eu jamais renegaria a Cristo!”. Será? Quando, em uma mesa de restaurante, alguém ataca a minha fé e eu continuo a cortar o bife como se não tivesse ouvido, isso não é também uma forma de renegação? Quando meu respeito humano é maior que o respeito pela Palavra, não estou, de certo modo, pisando em Jesus para ser aceita pelos homens? De quantas formas diferentes acabo cuspindo na cruz?

Até mesmo Pedro falhou nesse ponto, embora também tivesse afirmado que jamais falharia.

Na última parte do filme, um padre se questiona: “O que eu fiz por Jesus? O que eu faço por Jesus? O que continuarei fazendo?”. Essa é a pergunta fundamental que deve rondar nosso espírito dia após dia — não como nossos próprios inquisidores, mas como filhos de Deus que reconhecem sua fragilidade e compreendem que a fé e o amor podem enfraquecer antes mesmo que nos demos conta do que está acontecendo.

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa