Suponho que eu saiba um terço sobre você; o outro terço eu imagino e o outro eu invento. Sei que você é contido, talvez tímido, mas não retraído. Imagino que olhe para as pessoas com o semblante sério, não zangado, e que quando está sendo simpático mexa os lábios ligeiramente. Abrir um sorriso, esse sorriso do qual eu tanto gosto, só quando vale muito a pena – isso eu inventei.
Eu sei que seu paladar não é muito dado a doces então imagino que você aceite aquele pedaço de pudim por educação. Em minhas invenções, porém, sei que você não recusa mesmo é uma boa fatia de goiabada.
Sei que seus braços são fortes, que seu corpo é ereto e que seus olhos estreitam quando você sorri. Eu imagino que se entrasse na minha sala agora, o ar daria licença para você passar. Tenho uma convicção quase concreta de que se me olhasse de perto, ah, se você chegasse bem perto, eu faria minhas malas e voltaria para casa com você.
Mas essa casa não é minha. Eu não tenho uma cópia da chave pendurada em um chaveiro comprado numa loja de souvenirs, eu não tenho nada além de algumas informações coletadas aqui e ali, um sem-número de suposições e várias invenções irresponsáveis.
Na minha cabeça, um dia você vem me buscar, mas sei que não vem.