Sentada diante do espelho, a moça encarou a simetria de um rosto que ainda era seu ao mesmo tempo em que era estranho para si. Moveu o queixo meio centímetro para o lado esquerdo e depois dez centímetros para o lado direito. Em seguida, tocou a linha do maxilar com as pontas frias dos dedos e tentou encontrar alguma imperfeição.
Tudo nela tinha um código.
Seu passaporte fora substituído por outro com uma foto mais atualizada, já que a anterior não condizia em quase nada com a realidade, e seus documentos de identificação tinham o mesmo nome e número, mas não o mesmo rosto.
Franziu a testa em pensamento e nenhum pedaço de pele reproduziu. Empinou o nariz e viu uma ponta tão acertada que poderia indicar qualquer lugar com exatidão. Suas bochechas tinham a cor e o tamanho adequados. Os cílios foram curvados no grau perfeito e a espessura dos lábios foi proporcionalmente calculado.
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Apesar de tudo isso, concluiu que não era bonita.
As fotos antigas sumiram e as lembranças dos desfeitos foram deixadas para trás. Ela tinha uma vaga noção de quem tinha sido um dia. Não podia dizer que gostava mais de antes, mas também ainda não chegara num estado de satisfação completo.
O espelho na sua frente era apenas um dos inúmeros espalhados ao redor – em torno de quinze ou vinte. Ficou de pé se viu em todos eles, por todos os ângulos e por todos os reflexos. Chegou à conclusão que a beleza não era uma ciência exata, mas continuaria tentando chegar em um resultado feliz.