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Bastidores

Escritor é profissão?

Um dia desses li um texto onde a autora contava que quando dizia aos outros que era escritora, as pessoas achavam graça e em seguida perguntavam: “Não, sério, com o quê você ganha a vida?”. Essa não é uma situação completamente incomum e não é privilégio dos escritores, eu diria, mas de artistas em geral.

Não é segredo para ninguém que nosso contexto valoriza bastante profissões técnicas e científicas, e trata as artísticas como ocupações de entretenimento ou apenas complementares. Você sabe, ninguém acredita mesmo que alguém possa ser escritor de verdade. A menos, é claro, que você já tenha 1 milhão de cópias vendidas e seus livros sejam traduzidos para 35 línguas diferentes.

A verdade é que nem sempre você acredita que é um escritor nesses moldes. E nem eu. Ou pelo menos não acreditava.

O processo de se aceitar como escritor, para mim, ainda está aqui, ainda não se concretizou. Ainda não está carimbado e ainda não preenchi nenhum formulário com minha letra cursiva: “Essscritoraaa”, a ponta do a assim meio dobrada para fora. Não, isso ainda não aconteceu. Em parte, porque acabei de iniciar o processo, em parte porque passei anos da minha vida dizendo para mim mesma que não queria tratar isto como uma profissão. Meu primeiro livro foi escrito quando estava na faculdade e o título que ela me deu é como eu ainda me apresento por aí. Sabryna, muito prazer, jornalista. Muito embora eu tenha escritos mais páginas de ficção do que notícias.

A verdade é que eu sempre achei que me tratar como escritora me roubaria boa parte do prazer que escrever me dá. Eu escrevo por necessidade de contar as histórias que surgem na minha cabeça. Escrevo porque não sei dizer o que quero dizer através de minha própria boca, então invento personagens e falo através deles. Eu escrevo porque não sei debater, não sei conversar frente a frente, não sei me expressar oralmente. Troco as palavras, gaguejo, erro a conjugação verbal. Escrever não, escrever é como rir. Simplesmente acontece.

Então, na minha cabeça, me ver como escritora era como tirar toda a leveza disso. Era cumprir prazos, bater pontos, alcançar um número x de páginas escritas por semana. Só de pensar, eu me recusava. Mas um dia, de repente, refletindo nuances econômicas, satisfatórias, artísticas e passionais, eu me perguntei: por que não? Escrever é, de fato, a única coisa que nasci sabendo. Todas as outras eu tive que aprender. Isso não quer dizer que eu já detenha todo o conhecimento da literatura e da escrita criativa, isso quer dizer que escrever histórias é a única ocupação que não me deixa exausta no fim do dia. Meus dedos doem, claro, mas minha alma não. Meu coração não. Minha mente não.

Sim, eu ainda titubeio quando alguém me pergunta qual minha profissão, por medo de não saber reagir à pergunta do primeiro parágrafo desse texto. Mas isso é papo pra outro dia. O que eu vim dizer aqui hoje é que já mudei meu perfil no Linkedin para Escritora (e Jornalista) e isso era algo impensável para a Sabryna de alguns anos atrás.

Que bom que a gente muda, né? Que bom.

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa