Eu sigo alguns perfis de escritores estrangeiros no Instagram e nas fotos eles sempre estão com um caderno cheio de anotações ao lado do computador. Meu inglês é sofrível demais para perguntar nos comentários o que eles escrevem, mas com o tempo fui deduzindo que são anotações sobre o que eles estão fazendo na telinha. Um deles inclusive escreve cenas inteiras no papel e tira um dia na semana exclusivamente para copiá-las em documentos digitais (o Google tradutor me ajudou a entender).
Isso despertou minha atenção porque era algo que eu nunca tinha feito embora às vezes realmente sentisse falta de um espaço analógico para rabiscar. O planejamento do meu romance atual foi feito integralmente no Word e eu o consulto muito pouco – não tenho considerado isso uma coisa boa -, o que tem deixado minha história diferente do plano. Esse não é exatamente o problema, porque, sim, o enredo pode mudar e a gente vive tendo novas ideias, mas no meu caso eu deixei de escrever muita coisa boa porque não lembrava que tinha pensado sobre elas lá atrás.
Se eu tivesse feito o planejamento em papel e ele estivesse sempre abertinho do meu lado a situação seria diferente? Com essa pergunta na cabeça eu passei a deixar um caderno perto do notebook e nele anoto um pequeno resumo sobre as próximas cenas. Pequeno mesmo, uma frase. Por exemplo: “Carmem e Mário no café”, “Carmem e Daniel em casa”, “Daniel e Vera no jantar”. Esses curtos lembretes têm me ajudado a lembrar o que estou planejando para o andamento da história, e não é incomum eles serem riscados e trocados por eventos novos. A cena de Mário e Carmem no café pode mudar para a praça e a cena de Daniel e Vera pode nem mais existir.
Também li que é interesse fazer esse mesmo resumo de capítulos que já foram escritos, uma técnica usada por roteiristas de séries, pois ajuda o escritor a não perder o fio da meada.
Eu não sei como até hoje fui uma escritora que não escrevia enquanto escrevia. Não que seja uma regra, mas a ferramenta do papel enquanto a história toma forma tem sido minha principal assistente. E eu, doida por papelaria, arrumei uma desculpa para comprar um caderno novo.