A sua narrativa ficcional é construída com cenas. Cenas lentas, cenas rápidas, cenas importantes e cenas de “respiro” (aquelas onde o personagem não está fazendo nada de muito interessante, aparentemente), mas todas elas precisam ter uma função, que é fazer a história caminhar.
Por isso, é fundamental que você saiba a hora certa de deixar o texto mais enxuto ou detalhado. Veja agora a diferença entre resumir e construir cenas e como usar da maneira certa no seu texto.
Observe os seguintes trechos:
“Aurélio saiu de casa, ansioso, quase nervoso, e encontrou sua vizinha Marta na calçada. Talvez pudesse matar um pouco de tempo conversando com ela e no fim das contas decidir que era melhor não ir aonde estava indo.
— Olá, Marta. Como vai?
Marta respondeu:
— Bem, e você?
— Onde vai com tanta pressa?
— Para a escola! Estou atrasadíssima!
— Boa aula!
— Obrigada! – Marta acenou e virou a esquina com o passo apressado”.
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Agora considere alguns pontos:
1) Aurélio é o protagonista da história e essa é a cena onde ele sai de casa para encontrar o seu pai, com quem não tem uma relação muito boa. Na cena seguinte eles conversam e os dois decidem tomar atitudes para melhorar o relacionamento, ou seja, essa é uma passagem importante para o protagonista pois mexe com o seu lado emocional.
2) Marta não é “ninguém” na história. Ela aparece uma vez ou outra, mas não faz tanta diferença para a narrativa. Ela tem sua função em pontos bem definidos e essa cena da calçada não é um deles.
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O que eu quero dizer com isso?
Que essa cena não deveria ser narrada com tantos detalhes, uma vez que sua influência no que vai acontecer a seguir, ou na história como um todo, é muito pequena.
Agora leia um trecho substituto:
“Aurélio saiu de casa, ansioso, quase nervoso, e encontrou sua vizinha Marta na calçada. Talvez pudesse matar um pouco de tempo conversando com ela e no fim das contas decidir que era melhor não ir aonde estava indo. Mas assim que ele a cumprimentou percebeu que a pressa dela era bem maior do que a sua. Estou atrasada para a escola!, ela respondeu e virou a esquina em disparada. Ele desejou uma boa aula e seguiu em frente”.
Percebem como a dinâmica é diferente? Você não toma o tempo do seu leitor com diálogos sem funções objetivas. Essa é a diferença entre resumir e construir cenas:
- Resumir: narrar em poucas palavras um fato, não entrar em detalhes e ir direto para a informação.
- Construir: ambientar o cenário, desenvolver a atmosfera, dar atenção ao movimento dos personagens e trabalhar bem os diálogos.
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Quando usar o resumo e quando usar a construção?
Depende da intenção da cena que você está trabalhando. Qual a importância dela para o progresso da história?
No nosso exemplo, a conversa de Aurélio com o pai parece importante demais para ser resumida, ao contrário do breve encontro que o personagem teve com a vizinha, um acaso que no fim das contas não influenciou no evento seguinte.
Agora, se nós decidíssemos que em vez de continuar seu caminho Marta parasse alguns minutos para conversar com o amigo e aconselhasse-o a não ir conversar o pai, aí sim teríamos uma cena apropriada para desenvolver em vez de apenas resumir.
Escolher entre resumir ou construir cenas evita que a sua história se prolongue em partes “chatas” e desnecessárias ou dê a impressão de você estar enchendo linguiça. Em vez disso ofereça logo ao seu leitor o que interessa: ação, desenvolvimento e progresso da narrativa.