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Para Leitores

[Resenha] O Sol Mais Brilhante – Adrienne Benson

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Sinopse

Leona, Simi e Jane são três mulheres de origens diferentes que têm suas vidas entrelaçadas no Quênia em uma jornada em busca de realizações pessoais e do sentimento de pertencimento. Cada uma com seu passado – às vezes tentando fugir dele, às vezes tentando entendê-lo – elas seguem adiante e a história ecoa na geração seguinte, onde suas filhas se aproximam e vivem suas próprias atribulações.

Resenha

Leona, uma antropóloga, saiu dos EUA para pesquisar os massai, uma tribo tradicional queniana, e estudar seus costumes e tradições. Em Nairóbi, ela conhece John, um habitante local com raízes inglesas. De uma noite sem compromisso onde eles sequer sabiam o nome um do outro, nasce Adia, uma filha que Leona não desejou, e por não desejar, entregou-a em adoção a Simi.

Simi é uma típica massai e cresceu sabendo que um dia seria circuncidada e dada em casamento a alguém. Ainda assim, sua mãe sustentou até onde pôde o desejo de ver os filhos – principalmente a filha – alfabetizados, fazendo de Simi uma das poucas mulheres da aldeia que sabia ler, escrever e falar inglês, habilidade que a aproximou de Leona quando ela chegara à tribo.

Contudo, depois de se tornar a terceira esposa de um membro da tribo, Simi descobre que é infértil, e nem os rituais e oferendas mudaram sua condição de agora mulher menos valiosa. Enquanto as outras esposas pariam um filho por ano, Simi via sua condição ir se deteriorando e ter como sorte não ser expulsa de uma comunidade que via a infertilidade como maldição.

Dessa forma, quando Simi adota formalmente Adia, ela passa a ser mãe de verdade, e sendo mãe de verdade, seu lugar na tribo está reconhecido. Porém, no futuro, ela e Leona entrarão em conflito por conta da garota meio-americana, meio-massai.

Paralelamente, em algum lugar dos EUA, Jane investe seu tempo na carreira de bióloga para esquecer que perdeu a mãe cedo e que seu irmão caçula é esquizofrênico e mora, isolado, em uma clínica. Partindo para a África com o objetivo de pesquisar e mapear os hábitos de elefantes ameaçados pela caça ilegal, ela conhece Paul, futuro embaixador americano e seu futuro marido, com quem terá Grace, seu ponto de apoio em meio às constantes mudanças que terão quando ela deixar a profissão para acompanhar Paul. Alguns anos depois, Grace e Adia serão adolescentes e melhores amigas.

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Dividido em três partes, O Sol Mais Brilhante narra de maneira sensível e envolvente a história dessas três mulheres, todas com um ponto em comum: são mulheres com passados que deixaram marcas e influenciaram fortemente nas decisões que elas tomaram no futuro.

Leona sofreu abuso sexual do pai na infância sob conhecimento da mãe, que nada fez para impedir ou punir o marido. O trauma desencadeou a introspecção em uma garota que cresceu acreditando que ninguém era confiável o bastante para ela se envolver, e por isso sua fuga mal disfarçada pós-noite com John. Por isso seu desejo desesperado em entregar Adia a alguém que pudesse ter e ser uma referência melhor.

John, por sua vez, acaba sendo um personagem coadjuvante de peso nessa história. O pai, alcoólatra e agressivo, foi o estopim para uma tragédia que marcou a vida da família, e a mãe, na velhice e com Alzheimer em meio às dores do passado, gerou uma confusão que repercutiu por mais de dez anos na vida do filho.

Simi decidiu desde muito cedo que suas filhas também teriam acesso à educação, pois a oportunidade que ela teve, embora interrompida na adolescência, mudou quem ela era e a forma como ela via a si e aos seus pares. Ainda assim, erra quem pensa que Simi negou suas origens e sua cultura em nome de uma suporta emancipação feminina.

Tribo Massai

Ela continuou querendo ser uma boa mãe e esposa massai, continuou querendo ter muitos filhos e dar alegrias à comunidade. A infertilidade provocou feridas e mexeu com sua autoestima, mas Simi jamais quis fugir do seu destino ou da sua gente e tudo suportou. Viu em Adia um alento, amando-a e educando de uma maneira que fazia a garota gostar mais da sua vida na tribo do que ao lado da mãe biológica.

Adia tem voz na última parte do livro e é uma menina com suas próprias questões (não vou dar spoilers), que tenta se encontrar no meio de visões e posicionamentos tão diferentes. De um lado, uma aldeia enraizada nos costumes locais, no outro, uma quase pressão em ser americana “de verdade”. O estranhamento dos demais – “Como pode uma africana ser branca?”, “Por que você usa acessórios esquisitos?”, em certo momento causa dúvidas nela mesmo sobre quem ela é a que povo ela pertence. Ela deveria continuar se comportando como uma massai ou deveria aprender de uma vez por todas os modos estadunidenses?

O contato com Grace gera um choque ainda mais potente, pois Grace tem pais afetivos, uma mãe cuidadosa – até demais – e uma casa que não tem barro pelo chão. Ela assiste a filmes tipicamente americanos e fala coisas que Adia não entende ou nunca ouviu falar. A amizade das duas vai dar uma virada na história que pode tocar até os corações mais duros.

Eu gostei de como os personagens de Adrienne Benson, que iniciou sua carreira de escritora com esse romance bastante elogiado, são moldados sem estereótipos, com originalidade, mas também com familiaridade. Quem de nós já não se sentiu perdido em um primeiro dia de aula na escola nova? Agora ponha isso em perspectiva macro e se imagine no lugar de Jane, em outro país, com pessoas e idiomas estranhos. Da mesma maneira, Adia, acostumada a ter o pé no chão, vê-se às voltas com os hábitos arraigados de Grace, super protegida pela mãe e totalmente alheia ao mundo ao seu redor.

Conhecer a cultura do Quênia, mais especificamente dos massai, pode ser estranho no começo, principalmente quando entramos em contato com a circuncisão feminina, costume proibido desde 2011 no país, mas que ainda ocorre com frequências em tribos mais tradicionais. Por outro lado, ver a narração da savana, das paisagens de tirar o fôlego e dos rituais chega a ser contemplativo. Para mim é, sem dúvida, uma das partes mais interessantes.

O Sol Mais Brilhante chegou até a mim por meio de uma edição da TAG Livros, e acompanhando o exemplar está uma pequena cartilha com uma entrevista com a autora e mais informações sobre as tribo massais.

Sobre a autora

Adrienne Benson cresceu na África subsaariana. Filha de agentes humanitários, eles moraram em Zâmbia, Libéria, Quênica e Costa do Marfim. Voluntária do Corpo da Paz, ela vive atualmente em Washington, D.C., com os três filhos.

Sobre o livro

Título: O Sol Mais Brilhante
Autora: Adrienne Benson
Ano: 2020
Editora: Harper Collins/TAG
Páginas: 319
Avaliação: 4/5

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Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa