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Bastidores

#7 O mundo é grande, as possibilidades também

O meu poema favorito fala sobre amor. Eu te amo porque te amo, não precisas ser amante e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo.

Drummond tenta enumerar As Sem-Razões do Amor mas propositalmente não obtém êxito porque amor é dado de graça. Todos os meus amores não correspondidos – e eles estão em muito maior número do que os correspondidos – foram dados de graça.

Romântica que sou, nutri a ânsia de me apaixonar desde cedo e desde cedo quis escrever uma história que valesse a pena ser contada. Não esperava esbarrar em um garoto no corredor da escola – como nos filmes mais básicos -, mas esperava amar e ser amada por toda a vida. Um amor de adolescência que avançasse pelos anos até chegar a vida adulta e se desabrochar em uma família. Esse era o meu sonho, uma família com um homem que eu passei mais tempo amando do que desconhecendo. 

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Quis a vida, ou Deus, que até aqui ainda não tenha acontecido. Na caminhada que flerta com a solidão, despi-me das fantasias hollywoodianas e passei a encarar a realidade: talvez não aconteça. Entretanto, abrir os olhos para a realidade, por mais que ardam, não é se amargurar, é sobretudo se precaver dos oportunistas, dos maus caráteres e dos mal intencionados. Você não se desespera para encontrar alguém porque entende que uma escolha ruim pode custar muito mais do que não escolher nada e isso não é sobre seletividade, é sobre um certo instinto de proteção. O poder de quem não se desespera é enorme e mulheres calmas e contidas olham as circunstâncias com mais clareza.

Não delineio nas minhas orações um homem com as feições de um ator da Globo, mas alguém que eu, na minha particularidade, ache-o mais bonito do que todos os outros. Mais bonito sem barba, quando ele prefere barba, mais charmoso com roupa branca do que cinza, mais atraente com um semblante sério do que faceiro. Um homem inteligente que vai me explicar tudo que eu não sei como se eu fosse uma criança de cinco anos. Um homem que vá à missa comigo porque quer e não porque eu pedi; um homem que me deixe servi-lo à mesa porque para mim isso não é demérito nenhum. Alguém que me deixe escolher os filmes e quando eu fizer uma escolha muito ruim passe o resto do mês fazendo piada porque eu realmente vou achar muito engraçado. Um homem que não se meta tanto no nome que quero escolher para os filhos e se eu não conseguir ter filhos, aceite adotar alguns comigo. Essa é a pessoa que eu pretendo amar, mas quem eu vou amar de verdade pode ser totalmente o contrário e ainda assim brilhará para mim porque é alguém em quem eu finalmente poderei descansar.

Todos os dias, pego em minha própria mão e digo: “Sei que você gosta de conversar durante o café da manhã, mas respire fundo”. Enquanto caminho só, tento não olhar para os vazios com pesar, mas com esperança. A única verdade em que penso é: o mundo é grande, as possibilidades também.

Escritora, jornalista e leitora assídua desde que se conhece por gente. Escreve por achar que a vida na ficção é pra lá de interessante.

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Sabryna Rosa