Há mais de um ano venho me preocupando com o dia do fatídico aniversário de 30 anos. Foi ontem. Um dia comum em que fiz faxina em casa, terminei a leitura de de um livro, cozinhei apenas para mim, vi TV, arrumei-me e saí para encontrar os amigos. Mas também fiquei triste, senti-me solitária, dei brecha para uma crise de ansiedade e me vi desesperançosa.
Em um O Grande Gatsby, Nick faz a seguinte reflexão no dia do seu aniversário: “Trinta anos… a promessa de uma década de solidão, um número cada vez menor de amigos solteiros, cada vez menos esperanças, os cabelos começando a cair… Porém, do meu lado estava Jordan que, ao contrário de Daisy, era sábia demais para levar consigo de ano para ano aqueles sonhos desbotados que é melhor esquecer. Enquanto atravessávamos a ponte escura, seu rosto pálido e lânguido encostou na ombreira do meu casaco, e o choque formidável dos trinta anos morreu diante da pressão reconfortante de suas mãos. Assim viajamos em direção à morte através daquele crepúsculo refrescante”.
Esse trecho faz eu me reconhecer no sentimento de Nick, um sentimento de que todo o viço da juventude ficou para trás e tudo que resta daqui para frente, quando não se tem muito além de si mesmo, é uma estrada solitária onde, se der sorte, terá uma mão reconfortante para segurar. Para mulheres que caminham sozinha a idade é um fator ainda mais pesado porque o tempo foge das nossas mãos como areia que voa no deserto e você ainda precisa correr sobre o chão quente em direção a algum lugar que não sabe bem qual é. A beleza, a fertilidade, a atratividade, tudo vai escapando à frente dos seus olhos.
Alimentam-se falsos estereótipos sobre nós, somos encaradas com dó, ou com desdém, e certos assuntos vão se tornando cada vez mais sensíveis de se discutir nas mesas dos restaurantes.
Mas você tem que continuar. Assim como Jordan, na companhia de Nick, você tem que deixar para trás sonhos desbotados que é melhor esquecer.