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    #15 Os sonhos são feitos de quê?

    Numa determinada sessão de terapia, a psicóloga perguntou quais sonhos eu tinha e eu respondi que nenhum, zero – nada inflava meu peito. Otimista que era, ela me disse que não se podia viver assim e pediu que eu elencasse cinco sonhos em uma folha de papel. A muito custo, listei quatro, todos tão aleatórios quanto dizer que um urso polar tem como sonho enfrentar uma fila no Detran do Maranhão. Já ouvi dizer que somos feitos da substância dos nossos sonhos, mas quando não se tem sonho nenhum significa que você é oco? Por um lado, até que não é tão ruim porque você pode pegar uma coisa oca…

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    #14 Me dê dez anos, mas eu escolho quais dez

    Há dez anos, eu achava que tinha todo o tempo do mundo e, de repente, o tempo passou e eu não vi. Pego-me olhando para trás, pensando o que eu fiz neste intervalo e me vem uma sensação de desperdício, como se tivesse deixado uma torneira aberta e me distraído com qualquer coisa lá fora. Quando dei por mim, estava inundada.  Mais do que ser um clichê, desejar voltar no tempo para tomar decisões diferentes é, sobretudo, inútil, porque de qualquer forma eu me arrependeria de errar, só seriam erros diferentes. Talvez menores, talvez menos prejudiciais, mas ainda erros. Não existe uma vida anestesiada onde você empilha todas as cartas…

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    #13 Perdas e ganhos

    Neste texto, para cada história de fracasso, uma história de vitória. Lembram do Soletrando? O quadro do Caldeirão do Huck em que crianças soletravam palavras? Mais ou menos aos doze anos de idade fui selecionada para a etapa estadual e errei a primeira palavra. Eliminada. Aos dez anos, ganhei meu primeiro concurso de redação. Estudei boa parte da minha vida em escolas públicas e no ensino médio fui transferida para uma escola particular, onde na primeira prova de História acertei apenas uma questão. Aos dezenove anos, ganhei um prêmio literário e publiquei meu primeiro livro. Não consegui passar no vestibular quando todo mundo passou. Mas não reprovei na minha prova…

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    #12 Como descobri a beleza de ser mulher

    Certo dia, em um grupo de whatsapp, fui cobrada por estar ausente das conversas. Era um grupo apenas de mulheres, e eu, muito educadamente, justifiquei-me: “Vocês estão sempre falando sobre roupa e maquiagem, eu acho muito chato”. Se abrir a minha necesáire agora, tudo que tem dentro dela são dois ou três batons, um pó compacto, um blush e uma máscara de cílios. Tem também dois pinceis que ganhei da minha irmã – de uma coleção de vinte que eu não saberia como usar, mas ela sabe. Minha maquiagem do dia a dia é quase imperceptível de tão básica que é. Já tentei aprender a me produzir melhor, mas não…

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    #11 Meus avós

    Se eu pudesse viver na narrativa do filme Questão de Tempo, eu usaria o poder de viajar para usufruir um pouco mais da companhia dos meus avós. Tenho pouquíssimas lembranças da minha avó materna, que faleceu quando eu tinha 12 anos de idade, a fase em que você prefere se conectar com uma música no fone de ouvido do que com um parente. Ela era uma senhorinha muito simpática, de cabelos curtos brancos e cheios de ondas, bem macios. Magra, vestia conjuntos de roupa de tecidos estampados e largos no corpo, mas não me lembro muito bem o que ela calçava para ir à missa, por exemplo. Aliás, São Francisco…

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    #10 Meus livros e filmes preferidos

    A maioria das pessoas que leva sua formação literária a sério sabe o quão fantasioso, ou pelo menos difícil, é elencar uma lista, seja grande ou pequena, de livros favoritos. Sim, eu posso dizer que meu livro que encabeça essa lista é O apanhador no campo de centeio, mas dependendo do dia, do meu humor, eu até penso em trocá-lo de lugar com outro. Não sei, é como escolher de quem você gosta mais da sua família quando você ama todos igualmente. Meus cinco livros favoritos  Leia também #9 O sol se põe a hora que quer Fui educada cinefilicamente com Sessão da Tarde e com filmes alugados na sexta-feira…

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    #9 O sol se põe a hora que quer

    Moro em uma cidade litorânea e um passeio muito comum entre os moradores daqui é assistir ao pôr-do-sol na praia. Há dias em que realmente está espetacular e há dias em que as nuvens ficam com ciúmes e nos impedem de ver, como um vigia de circo que descobre que você está espiando pela brecha da lona. Então, em um sábado ensolarado qualquer, você decide ir até à praia no fim de tarde, pega o carro e desce as avenidas largas da Beira-Mar até perceber que todo mundo teve a mesma ideia que você. Não tem lugar para estacionar, não tem uma cadeira vazia em uma barraquinha de água de…

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    #8 O meu trabalho dos sonhos é qualquer um 

    Quando eu era criança, eu não sabia muito bem o que eu queria ser quando crescesse. Agora que cresci, continuo não sabendo. Uma das minhas maiores crises existenciais aconteceu no meio da faculdade, quando me dei conta de que não queria ser jornalista nem quando saísse dali e nem em qualquer outro tempo. Hoje, sou jornalista há cinco anos.  Todo mundo tem uma profissão dos sonhos? Eu nunca tive. Nada nunca me brilhou os olhos como eu via os olhos das outras pessoas brilharem com, por exemplo, as carreiras jurídicas, as militares; ou com a possibilidade de trabalhar com a terra, com os animais; ou quem ainda sabe dar aulas,…

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    #7 O mundo é grande, as possibilidades também

    O meu poema favorito fala sobre amor. Eu te amo porque te amo, não precisas ser amante e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Drummond tenta enumerar As Sem-Razões do Amor mas propositalmente não obtém êxito porque amor é dado de graça. Todos os meus amores não correspondidos – e eles estão em muito maior número do que os correspondidos – foram dados de graça. Romântica que sou, nutri a ânsia de me apaixonar desde cedo e desde cedo quis escrever uma história que valesse a pena ser contada. Não esperava esbarrar em um garoto no corredor da escola – como nos filmes mais básicos -,…

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    #6 Medo do escuro

    A minha vida foi recheada de medos. Posso dizer que boa parte dos problemas que já tive foi por medo de alguma coisa. Coragem nunca foi o meu forte, é o parafuso que a cegonha deixou cair quando me transportava até a minha casa.  O mais bobo deles é o medo do escuro, mas também é o medo que resume todos os outros. Quando criança, morei em uma casa onde o meu quarto ficava bem longe do único banheiro e eu tinha pânico de atravessar todos os cômodos para chegar até lá. Bom, você já pode imaginar o que acontecia no meio da madrugada. Mas eu não tinha – não…

Sabryna Rosa