O dia ainda não está tão claro e os pensamentos já são lançados como bolas de tênis que eu preciso rebater. “Que dia é hoje?” “Ligar para Fulano”. “Consulta às 15h” “Passar na casa da mãe e pegar a ração”. Eu levanto, puxo os lençóis para arrumá-los. “Entregar aquele relatório até o meio-dia”. Saio do banho e passo a toalha pelo rosto, o corpo meio zonzo. “Acabou o ovo e a banana, tenho que passar no supermercado”. E o dia vai passando e as tarefas aumentando à medida em que eu me lembro delas. No meio do expediente, pergunto-me se ainda vale a pena continuar fazendo aquilo ou se é…
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5 trechos de Grandes Esperanças
Cheguei ao fim da minha releitura de Grandes Esperanças e foi emocionante reencontrar e acompanhar novamente a trajetória de ascensão financeira e redenção moral de Pip. Uma narrativa que encanta pela complexidade de seus personagens e por envolver amor, humor, crítica e boas lições para a vida. Destaco agora 5 trechos de Grandes Esperanças que farão você ter vontade de ler, ou reler, o livro. “No pequeno mundo em que vivem as crianças, seja quem for que as crie, nada é percebido com tanta intensidade, e sentido com tanta intensidade, quanto a injustiça. As injustiças a que a criança é exposta podem ser pequenas; mas a criança é pequena, e…
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O mundo real não é instagramável, mas bem que poderia ser
Todos nós que crescemos com computadores de mesa e internet discada sabemos que isso aqui passou de um mundo novo e interessante para um quase lamaçal de críticas, ofensas e insalubridade. Por isso, é difícil achar um espaço online onde você possa colocar uma cadeira de praia e apenas observar a vista. Um desses poucos lugares é o Pinterest (se quiser me acompanhar por lá é só clicar aqui), uma rede social de fotos bonitas e comentários – muito embora eu já tenha aberto minha aba de comentários e encontrado muita gente esbravejando lá por conta de um pin meu. O Pinterest é um oásis em meio ao caos urbano…
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Grandes Esperanças: sra. Havisham e o vício pela dor
Grandes Esperanças é um clássico da literatura mundial e faz parte do meu projeto de releituras em que eu revisito não só o enredo como tento perceber e interpretar melhor as nuances da narrativa, principalmente dos clássicos. Se você ainda não leu essa obra prima de Charles Dickens, neste artigo não há spoilers, mas eu sugiro que você leia primeiro o livro e depois acesse meu texto. Pip é um menino órfão que vive em uma aldeia com a irmã, uma mulher violenta, e com Joe, seu marido, um homem bastante gentil e amigável. Um dia, Pip é levado até a casa da sra. Havisham, uma senhora rica da cidade,…
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#3 Cartas que Coralina escreveu e guardou em um cofre
Eu queria ver a Terra girar. Dizem os especialistas em sucesso pessoal: você precisa ser confiante no processo, acreditar em si mesmo e ser constante. Eu confio no processo, às vezes acredito em mim mesma, mas definitivamente luto para ser constante. Sempre tive dificuldade em trabalhos repetitivos, minha mágica acontece quando eu preciso criar algo ou fazer surgir uma boa ideia. Sou boa em desenhar móveis de madeira, mas não sirvo para bater o mesmo prego por vinte dias seguidos. A inconstância me leva a percorrer o caminho pela metade e é desanimador olhar para frente e não ter mais nenhuma vontade de continuar. Não adianta ir contra a realidade:…
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Charlotte e Mr. Collins: como abrir mão do romantismo pode ser uma boa decisão
Em Orgulho e Preconceito, o casal Mr. Darcy e Elizabeth Bennet arrancam suspiros há mais de duzentos anos. Ele, um homem arisco por fora, porém gentil e cuidadoso por dentro, elegante, culto e com uma boa fortuna. Ela, romântica, não ingênua, inteligente, com bons modos e ideias firmes. Juntos, descobrem um amor capaz de superar as mais sólidas más impressões. Mas há outro casal nessa história que sempre me chamou atenção, tanto no livro quanto no filme. Trata-se de Mr. Collins e Charlotte Lucas, e é a partir da história deles que eu vou falar como abrir mão do romantismo pode ser uma boa decisão. Mr. Collins é primo das…
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Há sempre um bilhete para este trem
Uma frase de Sully Prudhomme diz assim: “Talvez não temamos a morte porque o tempo se compõe de uma série de instantes infinitamente curtos durante os quais estamos certos de viver”. Esses dias, a morte passeou entre pessoas conhecidas e foi como aquele aviso de cobrança que chega embaixo da sua porta depois de você muito ignorar as dívidas não pagas. Um lembrete: “não é porque você finge que eu não existo, que eu não estou aqui”. De todas os fatos certeiros da vida, a morte é o mais confirmado, e, curiosamente, o mais ignorado e o mais temido. Ao mesmo tempo em que se morre de medo de morrer,…
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3 livros que previram o futuro
Livros de ficção científica não raro usam universos futuristas para discorrer sobre problemas sociais. Tecnologias avançadas, tragédias apocalípticas, vidas no espaço, em outros planetas, ou ainda sistemas ditatoriais, são alguns elementos que costumamos ver nessas narrativas. Certamente, você já deve ter lido ou ouvido falar de vários deles, mas dos livros lançados há muito tempo, quantos deles realmente acertaram em suas previsões? Confira 3 livros que previram o futuro. Admirável Mundo Novo (1932) Na Londres de 2540, a promiscuidade é incentivada, a religião abolida e a ciência usada para domínio das massas. A Bíblia e outros livros cristãos são proibidos e a literatura clássica tida como ultrapassada a ponto de…
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Como fazer marcações durante a leitura
O processo de fazer uma leitura ativa – ou seja, uma leitura onde você não só entende o que está escrito como interage com o texto – é de extrema importância para aperfeiçoar o aprendizado e contribuir com a memorização. Nesse artigo estão algumas ideias de como fazer marcações durante a leitura e você pode aplicar em estudos acadêmicos, estudos livres e livros literários. Materiais Eu recomendo recursos analógicos, mas se você é cem por cento da galera do digital pode usar aplicativos de anotações como Evernote, Notion, Google Keep ou o velho e bom Word, desde que você mantenha um nível de organização em qualquer um deles. No caso…
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3 poemas de Augusto dos Anjos
Confesso que Augusto dos Anjos é um nome que só me lembra o ensino médio e as aulas de literatura, e por mais que eu gostasse da disciplina, poucos foram os autores que continuaram a despertar meu interesse depois da escola, entre eles Fernando Pessoa e Cecília Meireles. Porém, sabendo que Augusto dos Anjos é um dos grandes, resolvi ler. Tive bastante dificuldade com o estilo, o vocabulário rebuscado e as palavras estranhas, que me fizeram ir e voltar várias vezes nas linhas até pegar mais ou menos o contexto. Por outro lado, quando algum poema me tocou, aconteceu de maneira bem lúcida, como se eu e o poeta tivéssemos…